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Cantor folk inspira filme dos irmãos Coen

Longa "Inside Llewyn Davis", ainda inédito, é baseado na autobiografia póstuma do americano Dave Van Ronk

Produção com Oscar Isaac, Carey Mullingan e Justin Timberlake pode estrear no festival de Cannes, em maio

MICHAEL CIEPLY DO “NEW YORK TIMES”

E se um cantor folk tivesse sido espancado diante de um clube de Greenwich Village em 1961?

Essa pergunta aparentemente aleatória sobre um cantor azarado num encontro hipotético no endereço antes ocupado pelo clube Gerde's, em Nova York, começou a incomodar Joel Coen -que escreve e dirige filmes incomuns com seu irmão Ethan- oito anos atrás.

O resultado dessa inquietação é o filme "Inside Llewyn Davis", longa que promete representar a quintessência dos irmãos Coen -só que de um jeito bem diferente.

Para começar, explicou Joel, o filme guarda algum parentesco com "Os Miseráveis": quase todos os atores principais do filme cantam -Oscar Isaac, Carey Mulligan e Justin Timberlake.

Embora não seja exatamente um musical, "Inside Llewyn Davis" gira em torno de apresentações completas de canções folk que eram ouvidas no ano em que Bob Dylan surgiu na cena musical americana.

Quanto à trama, não há elementos geralmente comuns para os irmãos, que escreveram e dirigiram histórias policiais complexas como "Fargo" (1996).

Desta vez, eles apresentam as provações vividas ao longo de cerca de 15 dias por um cantor folk em dificuldades: Llewyn Davis, representado por Oscar Isaac.

Para que fique claro, Llewyn Davis não se assemelha e nem soa como Dave Van Ronk, cuja autobiografia póstuma de 2005, "The Mayor of MacDougal Street", escrita com Elijah Wald, serviu de material de base para o filme.

"O personagem não é Dave, de maneira nenhuma, mas a música, sim", disse o autor Wald, depois de ter assistido ao filme ainda inédito ao lado da viúva de Ronk.

Durante anos, Wald não soube quem havia comprado os direitos do livro para o cinema: os Coen.

Wald baseou a obra nas reminiscências de Van Ronk, que compilou após a morte deste, em 2002. O escritor disse que "curtiu imensamente" o filme. Mas avisou que o mundo de "Inside Llewyn Davis", tendo sido idealizado pelos irmãos Coen, é "menos inocente" que aquele habitado por Van Ronk, Bob Dylan, Paul Clayton e outros cantores evocados no filme.

A trama de "Inside Llewyn Davis" passeia por lugares reais como o Gaslight Café e o clube Gate of Horn, em Chicago, sem retratar artistas reais da música folk.

MISTÉRIO

Se o filme passou os últimos meses cercado de uma leve aura de mistério, é em parte porque os irmãos Coen o fizeram com o apoio da empresa francesa Studio Canal e sem distribuidor nos EUA.

Depois de filmar em Nova York e em outros lugares no ano passado, os irmãos concluíram o filme em seu próprio ritmo. Poderiam ter se apressado para que "Inside Llewyn Davis" participasse da safra do Oscar deste ano.

Em vez disso, disse Joel, é possível que o filme faça sua première pública no festival de Cannes, em maio. E até então, supondo que os compradores o apreciem tanto quanto Wald, o filme pode contar com distribuidor americano, um exército de divulgadores e uma data de estreia.

TRILHA

Trabalhando com Marcus Mumford, da banda Mumford & Sons (vencedora do Grammy de Melhor Álbum de 2012), T Bone Burnett -ex-guitarrista de Bob Dylan e produtor de artistas como Roy Orbinson e Los Lobos-produziu a música de "Inside Llewyn Davis".

Burnett ajudou a recriar o renascimento breve de um cenário folk que, no início dos anos 1960, fez de Washington Square e seus arredores uma encruzilhada improvável de influências musicais.

Quase toda a música do longa, incluindo a balada tradicional "Dink's Song", de Dylan, vem dos anos 1960. Mas alguns anacronismos leves penetraram no trabalho.

Na vida real, os poetas musicais animaram as coisas por poucos anos antes da chegada de instrumentos elétricos, da mudança de gostos e da explosão da contracultura ter deixado o folk para trás.

Em meados dos anos 1970, observou Wald, Van Ronk, que foi uma espécie de padrinho do cenário folk mas nunca chegou a desfrutar o status de estrela de Bob Dylan ou Joni Mitchell, resmungava que deveria ter ficado na marinha mercante.

"Quando encontramos Llewyn Davis em 1961", disse Coen, "ele parecia estar sofrendo frustrações próprias".

O diretor não revelou como o espancamento diante do clube Gerde's se encaixa em sua história, mas um link na internet associado a convites para uma sessão do filme mostra o cantor sendo jogado sobre um carro e espancado numa viela escura.

"Ele estava tentando imprimir algum movimento a sua carreira e a sua vida", comentou Coen. "Nem sempre vem ao caso quão bom você é. E é isso o que o filme mostra."

Tradução de CLARA ALLAIN.


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