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Mais leve, Ken Loach celebra neorrealismo
Novo filme "A Parte dos Anjos" "começa bem pesado, mas depois se torna engraçado e doce", diz cineasta inglês
Diretor que levou classe operária britânica às telas diz inspirar-se no movimento italiano e admirar Andrzej Wajda
Ken Loach tem 76 anos e não para. Acaba de lançar seu 27º longa-metragem para o cinema, "A Parte dos Anjos", mais um drama realista sobre a classe trabalhadora britânica, só que, desta vez, com um tom mais leve e cômico.
"O filme começa bem pesado, mas depois se torna engraçado e doce. Acho que isso vai surpreender as pessoas", diz o diretor.
É verdade. Quem está acostumado ao tom cinzento e ultrarrealista dos filmes de Loach, como "Terra e Liberdade" (1995) e o recente "Rota Irlandesa" (2010), pode estranhar o lado mais cômico de "A Parte dos Anjos" (2012).
Estaria Loach, um dos pais do cinema realista e combativo britânico, que botou a classe proletária inglesa nas telas em filmes marcantes como "Kes" (1969), finalmente amolecendo?
"Acho que não se trata disso", diz Loach, por telefone, de seu escritório em Londres. "Mas é sempre bom tentar coisas novas."
"Acho que mesmo as histórias mais tristes têm seu lado leve", diz o cineasta. "Gosto muito de fazer filmes que não sejam iguais do começo ao fim."
Loach diz que sua maior inspiração sempre foi o cinema neorrealista italiano de Roberto Rossellini (1906-1977) e Vittorio De Sica (1901-1974). "Para mim, o cinema feito na Itália nos anos 1940 e 1950 é imbatível, com sua mistura de humanismo e denúncia social. Até hoje esses filmes não perderam a força."
Outro cineasta que Loach destaca é o polonês Andrzej Wajda, de "Sem Anestesia" (1978) e "O Homem de Ferro" (1981): "Admiro profundamente o trabalho de Wajda e me identifiquei muito com os seus filmes. É um cineasta que viveu dentro de uma sociedade opressora e que soube contar histórias sobre suas próprias experiências".
Loach diz não ser grande fã do cinema norte-americano, mesmo o dos anos 1970, considerado mais "realista".
"Muita gente diz que Hollywood, nos anos 1970, fez filmes que falaram de conflitos sociais e geracionais, mas sempre achei o cinema hollywoodiano melodramático demais. Você pega um filme como 'Perdidos na Noite' (dirigido pelo inglês John Schlesinger) e percebe que é extremamente manipulador e melodramático".
Ken Loach tem apresentado uma produção ativa e, ao longo dos anos, manteve um público fiel. "Meus filmes não são 'blockbusters' e nem eram para ser", diz.
"Meu interesse é contar histórias sobre pessoas normais, que são geralmente esquecidas pelo cinema comercial. Não tenho o menor interesse em filmar em Hollywood. É um mundo que simplesmente não me interessa. E tenho certeza de que meu cinema também não interessa a Hollywood."