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Diretor de 'O Exorcista' lança filme ultraviolento
No Brasil, "Killer Joe" foi lançado com classificação etária para maiores
Para William Friedkin, o atual cinema americano é feito para crianças; "é o oposto do que me interessa"
Em 1973, William Friedkin, tinha acabado de ganhar um Oscar de melhor diretor por "Operação França" e poderia assumir qualquer superprodução hollywoodiana. Escolheu entrar na disputa para dirigir "O Exorcista".
Friedkin não se acomodou. Usando uma garota de 12 anos como veículo de possessão demoníaca, o cineasta criou cenas tão memoráveis quanto perturbadoras: Regan (Linda Blair), a protagonista, se masturbando com um crucifixo e girando a cabeça em 360 graus virou sinônimo de pavor nos cinemas.
Quarenta anos depois, Friedkin volta a gerar controvérsia com "Killer Joe - Matador de Aluguel", um filme tão violento que, nos EUA, recebeu a mesma classificação etária de uma produção pornográfica -e várias lojas se recusaram a vender o DVD.
"Muitos cinemas americanos não passaram o filme e isso nos matou", reclamou o cineasta em entrevista à Folha. "O único longa a ganhar o Oscar com essa classificação foi 'Perdidos na Noite', em 1970. Mas eram tempos mais liberais, agora tudo é mais conservador nos EUA."
No Brasil, onde entrou em cartaz neste fim de semana, "Killer Joe" é recomendado para maiores de 18 anos.
"Na Alemanha, queriam cortar o filme severamente, mas não deixei", contou Friedkin. "Falei que, se cortassem o filme, iria para a imprensa acusando os censores de fazer o mesmo que fizeram há 60 anos. Eles recuaram."
FRANGO FRITO
A razão de tanta discórdia está em uma das cenas (ou a cena) mais chocantes do cinema nos últimos anos.
Matthew McConaughey, um detetive corrupto, força uma mulher (Gina Gershon) a simular sexo oral nele com um pedaço de frango frito -e na frente do marido (Thomas Haden Church).
"Não demos atenção especial a essa cena", desconversou Friedkin. "Mas Matthew odiou quando a leu pela primeira vez e se recusou a fazer o filme. Ele achou terrível e disse que teve vontade de tomar banho usando uma lixa para tentar se limpar."
Convencido por amigos, McConaughey releu o roteiro e compreendeu melhor a violência do texto do dramaturgo Tracy Letts.
"Matthew é perfeito, porque veio dessa parte do país [interior do Texas] e cresceu com tipos semelhantes aos descritos no roteiro."
CARETA
Friedkin, aos 77 anos, conseguiu produzir um filme que poucos cineastas, mesmo os independentes, têm a liberdade para lançar nos EUA.
"Não gosto do cinema que se faz hoje em dia em meu país, que é basicamente para crianças. É o oposto do que me interessa", diz o cineasta.
Ele fala com a sabedoria de quem tem um Oscar na prateleira e fracassos retumbantes como "Jade" (1995) e "Regras do Jogo" (2000).
"Não é fácil fazer cinema independente. Toda vez em que John Cassavetes [diretor de 'Uma Mulher Sob Influência', morto em 1989] queria fazer um filme, tinha de hipotecar a casa e vender o carro."
AUTOBIOGRAFIA
A trajetória de Friedkin, um dos nomes mais importantes de sua geração, será melhor contada no mês que vem. É quando ele lançará "The Friedkin Connection", sua primeira autobiografia.
No próximo semestre, "O Exorcista" ganhará uma edição comemorativa de 40º aniversário. A edição incluirá três versões do filme.
"Teremos duas horas de material novo, inclusive uma entrevista inédita com o padre que inspirou William Peter Blatty a escrever o livro, além de novos documentos sobre o caso real que inspirou o filme."
Sobre o filme que o consagrou, Friedkin disse que nunca o considerou um filme de terror. "É uma história sobre os mistérios da fé. Mas admito que pode ser um pouco perturbador."