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Crítica ação
De volta à forma, Friedkin faz filme sujo, extremo e perversamente engraçado
ANDRÉ BARCINSKI CRÍTICO DA FOLHAEntre os cineastas que surgiram na grande leva do cinema norte-americano dos anos 1970, como Scorsese, Coppola e Bogdanovich, William Friedkin teve a carreira mais conturbada.
Fez grande sucesso com filmes como "Operação França" (1971), "O Exorcista" (1973), "Parceiros da Noite" e "Viver e Morrer em Los Angeles" (1985), mas sua carreira degringolou a partir de meados dos anos 1980.
Friedkin fez filmes ruins, como "Jade" (1995), e sofreu com críticas negativas e bilheterias fracas. Hollywood parecia tê-lo esquecido.
Por isso, é uma surpresa tão boa ver esse "Killer Joe - Matador de Aluguel" estreando em cinemas brasileiros.
O filme, inspirado em uma peça de Tracy Letts, dramaturgo vencedor do prêmio Pulitzer em 2008 por "August: Osage County", é um retorno à forma para Friedkin.
"Matador de Aluguel" é um policial "noir" moderno, habitado por alguns dos personagens mais repulsivos que já apareceram no cinema. Chris (Emile Hirsch, de "Na Natureza Selvagem") é um traficante que trama para matar a própria mãe, Adele, para ficar com o seguro de vida.
Chris contrata Joe (Matthew McConaughey), um policial que faz "bicos" como matador de aluguel. Mais do que o dinheiro de Chris, Joe se interessa pela irmã dele, Dottie (Juno Temple).
Também participam do plano o pai de Chris, Ansel, vivido pelo ótimo Thomas Haden Church (de "Sideways") e Sharla, atual esposa de Ansel, interpretado por Gina Gershon, um dos destaques do filme, no papel de uma personagem tão amoral que chega a ser divertida.
Mas a maior surpresa do elenco é Matthew McConaughey, talvez em seu melhor papel no cinema. O ator deixa de lado o histrionismo habitual e faz um matador frio e calculista, que não precisa fazer barulho para se impor. Um personagem assustador.
"Matador de Aluguel" é sujo, violento e perversamente engraçado, e traz alguns dos ingredientes comuns aos filmes de William Friedkin: personagens desajustados em situações extremas. É muito bom ter William Friedkin de volta. Ele faz falta.