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Casal cego do Mali toca seu afro blues no Sesc Pompeia

Dupla Amadou & Mariam apresenta canções de amor e temas políticos

Música do país da África Ocidental, hoje ocupado por tropas francesas, é tema de documentário

TRAJANO PONTES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Vocês devem se sentar e conversar. Discutir juntos, malineses. Conflitos raciais não são bons. Discutir juntos, guineenses. Conflitos raciais não são bons. Discutir juntos, marfinenses."

A letra de "Unissons Nous" ("unamo-nos"), música da dupla Amadou & Mariam -que faz shows hoje e amanhã em São Paulo-, pede a união.

O tema é recorrente na discografia do casal apresentado ao mundo em 2005 com o álbum "Dimanche à Bamako", produzido por Manu Chao.

Desde aquele ano, sua música -chamada no Ocidente de afro blues-, misto de canções de amor e de temas políticos, ganhou ouvintes fora do Mali, país natal da dupla.

Apesar do rótulo e dos temas às vezes sérios nas letras -cantadas em francês e predominantemente em bambara, língua nativa-, a forte base de instrumentos de percussão e corda dá ao som um tom positivo e alegre, mais "afro" que "blues".

"Sempre quis abrir as portas do continente ao mundo", diz Amadou Bagayoko, 58, principal vocalista e instrumentista da banda, em entrevista por telefone, de Paris.

E é fato que portas foram abertas. Desde a descoberta de sua música fora da África, a dupla tocou em festivais como Coachella e Lollapalooza (EUA) e o inglês Glastonbury.

Apesar disso, Amadou diz que sua arte ainda fala alto aos africanos. "Nossas canções são bem recebidas na África por todo mundo. É evidente que ninguém mais quer demagogia, ninguém mais quer corrupção", diz.

A música ainda não venceu a vida difícil no Mali, para onde a França recentemente enviou tropas para combater atos de violência perpetrados por fundamentalistas.

"Em 2012, passamos muito tempo na França. Mas estávamos em Bamaco [a capital] quando os franceses chegaram. Em boa hora", ele diz.

Hoje chacoalhado pela violência, a riqueza musical do país, que já deu ao mundo nomes como Salif Keita, é explorada no filme "Music in Mali".

O documentário é dirigido pelo americano Aja Salvatore e tem produção musical do brasileiro Rafael Tudesco, radicado em Los Angeles. Eles têm uma gravadora especializada em música africana.

"Nunca imaginei que metade do país seria tomada por extremistas. Não é o tipo de islã com que convivemos em nossas viagens", diz Salvatore, que fez viagens frequentes ao país na última década.

Ele pretende terminar o filme a tempo de inscrevê-lo em festivais ainda neste ano.

Amadou -entrevistado no filme- reafirmou à Folha a esperança que marca suas letras."O futuro da África? Vai dar certo! Antes, havia muitos golpes de Estado; hoje, temos um pouco mais de democracia, estamos na transição. Vai dar certo!", diz.


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