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'Tenho orgulho de todos os meus filmes', diz Nicolas Cage
Ator, que protagonizou 12 produções em três anos, lidera a animação "Os Croods - Uma Aventura das Cavernas"
Em um dos quadros mais engraçados do programa humorístico Saturday Night Live, o comediante Andy Samberg interpreta Nicolas Cage comentando o trabalho de outros atores convidados.
No ano passado, o próprio Cage participou do programa como "um clone dele mesmo". Segundo o astro -e seu "clone"-, a ideia de criar outro Nicolas Cage era para realizar o sonho de "estrelar todos os filmes já feitos na história". "Até agora só consegui estar em meros 90%", brinca o sósia.
A brincadeira fica mais engraçada porque há um fundo de verdade. Nos últimos três anos, o ator protagonizou 12 produções, de thrillers esquecíveis ("Reféns") a longas dignos de Oscar ("Vício Frenético"), passando por uma aventura com porquinhos-da-índia falantes ("Força G").
Agora ele lidera a superprodução animada "Os Croods - Uma Aventura das Cavernas", que estreia hoje no Brasil, dublando o pai de família pré-histórico Grug, personagem principal do filme.
"Não me arrependo de nada do que fiz nada vida, nem dos meus casamentos fracassados", disse o ator, durante entrevista no último Festival de Berlim, em fevereiro.
"Tenho orgulho de todos os meus filmes. Alguns são criticados, como 'Caça às Bruxas' e 'Fúria sobre Rodas'. Mas eles são experimentos que uso para o futuro. Cinema para mim é transformar toda a negatividade que já tive na vida em algo positivo."
Apesar de poucos filmes recentes ultrapassarem a linha do bom gosto, Cage sabe que esses projetos encontram respaldo fora dos EUA. "Olhando a carreira de Sean Connery, vi que a ação não precisa de tradução e que é aceita em qualquer país."
Essa reinvenção é proposital para quem está na indústria há 30 anos e já ganhou um Oscar de melhor ator em 1996 por "Despedida em Las Vegas". Mas a revelação teve um guru inusitado.
"Encontrei David Bowie há alguns anos e perguntei o que ele fazia para se manter relevante", revela Cage. "Ele disse: 'Você precisa se sentir desconfortável o tempo todo'."
O papo esotérico não é novo para quem conhece Cage. O ator mora em uma casa tida como assombrada em Nova Orleans, é alvo de comparações zombeteiras com um vampiro e possuía castelos antigos em vários países, o que quase causou sua falência em 2009.
"Todo mundo precisa pagar o aluguel, mas acho que o que faço é arte, e não um trabalho como qualquer outro." afirma o ator. "Mas, por outro lado, minha vida é bem enfadonha. Levo meu filho para o colégio, vou para a academia, depois o pego na escola e levo para casa. Uau, como sou louco", ironiza.
Mas Cage sabe que essa publicidade vende filmes. Não há nada inocente em castelos e vampirismo quando se promovem longas sobrenaturais para adolescentes.
Em um de seus próximos projetos, "Joe", de David Gordon Green ("Segurando as Pontas"), o ator faz um ex-prisioneiro que encontra um garoto de 15 anos que muda sua vida. Na cena inicial, ele precisa segurar e brincar com uma cobra venenosa, provocando alguns adolescentes.
"No primeiro dia de filmagem, vi que a cobra não era venenosa", lembra-se. "Falei para David que precisávamos de uma cobra boca-de-algodão real, porque eu relaxo com o perigo e atuo melhor."
Nos EUA, nenhuma seguradora permitiria o risco. Mas o ator insistiu, gravou um vídeo assumindo a responsabilidade pelo perigo no set e gravou a cena. "Foi um grande dia, e o diretor agora vai ter uma boa história para contar na promoção do filme", diverte-se o ator, que já teve sequências com répteis em "Vício Frenético", de Werner Herzog, e volta a ter uma cobra em "Os Croods".
"Em algumas culturas, cobras são animais sagrados. Elas estão no início das histórias mais importantes, como na Bíblia. Elas são poderosas", revela Cage.