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Diário do Rio

O mapa da cultura

Da memória carioca

O botequim que já foi e o que há de renascer

ALVARO COSTA E SILVA

Outro dia, numa conversa peripatética com o historiador Luiz Antônio Simas, procuramos onde beber uma água com gás em São Cristóvão; havia de ser naquele botequim de lindos azulejos floridos cor de laranja --e não o achamos. Ou melhor, o bar estava lá, mas era outro, modernizado e cafona.

No Rio atual, dobra-se uma esquina e... cadê? Bastou para que Simas, que pensa 24 horas por dia a cidade onde nasceu, perorasse sobre a tendência carioca de destruir os lugares de memória, sejam íntimos ou monumentais. Mais ainda com a bolha da especulação imobiliária a reboque das obras da Copa do Mundo e Olimpíada.

O historiador lembrou o morro do Castelo, o Palácio Monroe, o mercado de ferro da praça 15, a ameaça atual que pesa sobre os sobrados da rua da Carioca vendidos a uma instituição financeira, o Tijuquinha, o América, o Carioca, o Olinda, o Metro-Tijuca --todos cinemas da praça Saens Peña, todos desaparecidos. Onde estão os coretos de antanho?, perguntava-se Simas, com sua barba de revolucionário russo.

Em nossa caminhada, demos com o Maracanã, ao longe. Parece o mesmo, mas não é. E rimos, à sugestão de que o governador Sérgio Cabral, em ritmo de desfazer tudo o que fez na tentativa de recuperar o prestígio político, quem sabe não manda destruir o novo estádio e o refunda tal qual era antes.

RODA DE VITROLA

Fundado em 1898, o Aurora continua de pé, com seu incrível pé-direito de seis metros. Na esquina das ruas Capitão Salomão e Visconde de Caravelas, em Botafogo, o bar-restaurante andou caído, e agora tenta se recuperar sob nova administração. A boa notícia é que não haverá reforma, e sim restauração, a partir de fotos antigas.

Além de petiscos --que tal um bolinho de jiló com linguiça?--, uma novidade arcaica: no próximo domingo, o colecionador Manolo Torreira comanda uma vitrolada eclética, com agulhas sulcando vinis de Orlando Silva ou James Taylor, a gosto do freguês.

TALISMÃ ALVINEGRO

Ao vasculhar antigas páginas de esporte da "Última Hora", edição carioca de 1963, o pesquisador Rafael Casé encontrou um tesouro: coluna diária na qual Jacinto de Thormes repassava a trajetória de Nílton Santos, lateral-esquerdo do Botafogo, conhecido como Enciclopédia, aquele que é considerado, simplesmente, o melhor jogador de defesa de todos os tempos.

Na época, Nílton, bicampeão mundial em 1958 e 1962 vestindo a camisa da seleção brasileira, preparava-se para pendurar as chuteiras. Hoje, ele está com 88 anos.

Antes que alguém estranhe: o Jacinto de Thormes em questão não é o personagem de Eça de Queiroz que, no divertido romance "A Cidade e as Serras", sofre o tédio da vida moderna. Trata-se do jornalista Maneco Muller (morto em 2005), que adotou o pseudônimo para relatar casamentos, jantares, batizados e escândalos da alta sociedade.

Cinquenta anos depois, a ideia original de Maneco Muller se concretiza: o livro "O Velho e a Bola" (Maquinária Editora, R$ 36, 160 págs.), além de mostrar Nílton Santos na intimidade, é rico panorama de um tempo em que, no futebol brasileiro, havia craques, bolas de couro, traves de madeira, redes em formato véu de noiva e estádios --arenas, jamais-- dignos do talento do Enciclopédia.

Na torcida pela conquista do Campeonato Brasileiro, adeptos do Botafogo, supersticiosos no último grau e que vão da euforia à depressão num segundo, adotaram o livro como talismã.

FILHA DE PEIXE

Um nome a seguir: Bianca Gismonti. Compõe, escreve, arranja, toca e canta, com talento e segurança, como mostra no primeiro CD solo: "Sonhos de Nascimento" (Biscoito Fino, R$ 30). Filha de Egberto Gismonti, tem um domínio estupendo do piano. A faixa de abertura, aliás, a instrumental "Festa do Carmo", homenageia o pai.

"Entre Amigos" surgiu de improvisações feitas ao piano entre Bianca e Philippe Baden Powell. Já "O Letrista", de uma impossibilidade: "Compus a música para o Francisco Bosco. Queria muito que ele pusesse uma letra, mas, quando o procurei, ele já estava mais envolvido com outro tipo de literatura", conta ela. Difícil imaginar uma letra melhor para a música que Bianca assina sozinha.


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