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Diário do Rio

O MAPA DA CULTURA

Dor e delícia de ser carioca

Turistas entre o jiló frito e o trânsito infernal

ALVARO COSTA E SILVA

Está aberta a temporada de caça aos turistas. Uma recente pesquisa --com todo o jeito de otimista demais-- estima que, entre dezembro e março, mais de 3 milhões de pessoas visitem o Rio, sobretudo para o Réveillon e o Carnaval dos blocos de rua e do desfile das escolas de samba na avenida Marquês de Sapucaí.

Já estamos acostumados à faceta babélica da cidade, que chega com o verão e deverá assumir proporções de invasão bárbara na Copa, no ano que vem, e nas Olimpíadas, em 2016.

O senso comum identifica o turista como aquele sujeito cheio de grana, chapéu, máquina fotográfica pendurada no pescoço, camisa florida, tênis e meias puxadas até as canelas, mapas e guias na mão, a pele avermelhada de sol. Um perdido nos trópicos. Se ainda o vemos dessa maneira, como eles nos veem?

Carioca de família gaúcha, o jornalista Pedro Só tuitou outro dia: "O carioca é mau motorista, ciclista irresponsável e pedestre desatento. O bicho não sabe nem andar na rua com guarda-chuva". Ao que podemos acrescentar: mesmo sob a tempestade, veste bermudas e chinelos.

Um livro que acaba de sair --"Viajantes Estrangeiros no Rio de Janeiro Joanino" [José Olympio, R$ 27, 166 págs.], organizado pelo historiador Jean Marcel Carvalho França-- nos remete ao passado para entender o presente.

O comerciante inglês Henry Sidney descreve a cidade, em 1809, como suja. A rigor, é um retrato de hoje, apesar da propaganda oficial e da lei da prefeitura que multa quem bate cinzas de cigarro no chão.

O cirurgião irlandês James Prior, num passeio pela rua Direita (atual Primeiro de Março) em 1812, nota o estado de abandono das residências. De novo, o presente se parece ao passado: ao se propor uma nova cidade tipo Dubai na zona portuária, não se realiza uma contrapartida capaz de preservar o casario do centro histórico, que sofre com desabamentos e incêndios suspeitos.

Ah, sim, todos os viajantes, sem exceção --sejam os do século 19 ou 21-- ficam de queixo caído com nossas belezas naturais. Para bem ou para mal, o Rio de Janeiro continua sendo. Aos 450 anos.

BAILES E LOUVAÇÕES

A data será em 2015. Mas já existe um comitê, o Rio-450 --cuja página oficial é www.rio450anos.com.br--, para coordenar o calendário oficial das comemorações. Você pode mandar sugestões. O objetivo é que os festejos sejam tão marcantes quanto os do quarto centenário, em 1965.

Naquela ocasião, dois sambas-enredo com louvações à cidade tornaram-se clássicos: pelo Império Serrano, "Cinco Bailes da História do Rio", de Silas de Oliveira, Dona Ivone Lara e o misterioso Bacalhau; pela Portela, "Histórias e Tradições do Rio Quatrocentão", de Candeia e Waldir 59. Surgindo daqui a dois anos alguma coisa parecida, este diário dar-se-ia por satisfeito.

O MOCOTÓ DAS YABÁS

Um programa que os turistas vão adorar e que não é armadilha: a cada segundo domingo do mês, a partir das 13h, as tias de Oswaldo Cruz, não por acaso cozinheiras de mão cheia, se reúnem em 16 barracas na praça Paulo da Portela para preparar e vender jiló frito, tripa lombeira, caldo de mocotó, galinha com quiabo, rabada com batata e angu (esta é preparada por dona Neném, a mais velha das tias, com 87 anos).

Tudo baratinho: os pratos custam R$ 10, em média. É a Feira das Yabás (termo que define os orixás femininos).

No comando da roda de batuque, o portelense Marquinhos de Oswaldo Cruz, também responsável pela recriação do Trem do Samba.

DEVAGAR, DEVAGARINHO

"O Rio civiliza-se." Assim o jornalista Figueiredo Pimentel, da "Gazeta de Notícias", definiu, em 1904, a onda de transformações pelas quais passava a cidade, o "bota-abaixo" do prefeito Pereira Passos, que abriu, por exemplo, a avenida Central (hoje Rio Branco).

Igualmente num momento de intervenções urbanas --representado não só pela demolição da Perimetral como também pela remoção de famílias de suas casas--, hoje nos orgulhamos de ter o terceiro pior trânsito do mundo, atrás de Moscou e Istambul.

São Paulo, quem diria, aparece na sétima posição, segundo um estudo da empresa holandesa de tecnologia de transporte TomTom.

Um novo slogan já está pronto: "O Rio paralisa-se".


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