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Diário de Pequim

O MAPA DA CULTURA

Rock rebelde, pop de araque

A "rosa de segunda mão" faz barulho na China

MARCELO NINIO

Encravado no coração de Sanlitun, o bairro mais badalado de Pequim, o Estádio dos Trabalhadores, inaugurado em 1959, só mantém o espírito proletário no nome e nas épicas estátuas de atletas no estilo socialista.

Hoje elas convivem com lojas de grife e revendedoras de reluzentes carros de luxo.

Os aposentados que jogam peteca em volta do estádio não esquecem que o local foi usado para execuções públicas durante a Revolução Cultural (1966-76).

O ginásio anexo recebe vez por outra astros da música internacional, numa constelação variada, mas rarefeita, que nos últimos anos foi de Bob Dylan à cantora nipo-brasileira Lisa Ono.

Bandas chinesas com letras politizadas e um pé no underground não costumam ter vez; pelo menos não até dezembro passado, quando a veterana Ershou Meigui (ou "rosa de segunda mão") tocou lá.

Foi o primeiro show da banda, em seus 14 anos de carreira, no principal palco de Pequim. Para Liang Long, líder e vocalista do grupo, a ideia era dar um atestado de maioridade ao rock chinês.

"Há dez anos não havia mercado para a música; hoje ele está bombando", disse Liang à Folha no dia seguinte ao show, entre goles de chá verde. "O que mudou não foram as pessoas ou as bandas, mas o governo."

A abertura do mercado significa que há mais liberdade de ação, mas ela permanece vigiada. Nove músicas programadas para o show foram previamente censuradas pelas autoridades.

Ignorando a ordem, a banda tocou sete das canções proibidas. Depois do show, Liang recebeu o telefonema de um censor do governo, irritado com a desobediência. A banda foi convocada para uma "conversa séria" no dia seguinte.

"Mas depois nunca mais ouvi falar dele", diz o cantor, terminando o chá. "Ficou por isso mesmo, como muita coisa na China."

O VETO DO PADRINHO

Como fazem todos os anos, os chineses receberam o seu Ano- Novo, na última sexta-feira, comendo "jiaozi", espécie de ravióli, na frente da televisão, atentos à tradicional "noite de gala" da CCTV, a emissora estatal.

Canções patrióticas dão o tom, numa sucessão de apresentações de comediantes, cantores, dançarinos e lutadores. Mas a atração mais esperada não apareceu.

Cui Jian, conhecido como o padrinho do rock chinês, recusou o convite para participar ao saber que não poderia cantar sua música mais conhecida, "Nada em Meu Nome", um hino do protesto estudantil de 1989.

O movimento foi esmagado pelo Exército, e Cui ficou proibido de tocar para grandes plateias durante anos. Só recentemente voltou a se apresentar regularmente.

Ao recusar o surpreendente convite da CCTV, ele dispensou o programa de maior audiência da televisão mundial, estimada em 1 bilhão de espectadores.

ESTRELA DE LABORATÓRIO

A China é a segunda economia do mundo, possui cada vez mais poder, mas seus líderes não escondem a ambição de ter mais influência cultural --ou, no jargão diplomático, ampliar o seu "soft power".

Um dos projetos é ter um artista do país nas paradas de sucesso internacionais. Formada nos melhores conservatórios musicais da China, com um estilo comparado à da canadense Celine Dion, a cantora Ruhan Jia, 29, é a aposta de Pequim para conquistar o mundo.

"Um país só é visto como superpotência quando é forte culturalmente", disse Bill Zang, vice-presidente da Synergy, gravadora estatal por trás da carreira de Ruhan.

SONHO CHINÊS

O maior sucesso do cinema chinês na virada do ano foi um deboche pouco sutil do patriótico slogan adotado pela atual liderança do país, o "Sonho Chinês".

Dirigido por Feng Xiaogang, maior campeão de bilheteria do cinema chinês, "O Alfaiate Pessoal" (em tradução livre) arrecadou US$ 60 milhões (cerca de R$ 145 milhões) nos primeiros quatro dias de exibição, um recorde.

O filme conta a história de uma empresa especializada em realizar sonhos. Entre seus clientes está um taxista que fracassa ao tentar ser um político honesto.

Muitos se espantaram com o fato de o filme ter sido liberado pela censura, apesar das fartas doses de crítica social e do final sombrio, um lamento sobre a degradação do meio ambiente.


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