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Diário do Rio

O mapa da cultura

Os gringos e a paisagem

A invasão boleira e seu efeito sobre o carioca

ALVARO COSTA E SILVA

Dezoito dias de Copa: tempo suficiente para o carioca recuperar o tom "blasé" que caracteriza seu comportamento como anfitrião. Depois de certo frenesi diante das levas e mais levas de torcedores (a maioria marmanjos coloridos e barulhentos), que continuam a invadir a cidade, a rotina vai se estabelecendo. Os gringos viraram todos Mick Jagger.

Explica-se: reza a lenda que, em 1968, o líder do Rolling Stones, então no auge da popularidade, e não o notório pé-frio em que se transformou, adentrou o Antonio's, braço dado com a namorada Marianne Faithfull. Ninguém no bar, o mais badalado da época, deu a mínima. A roda de profissionais do copo continuou os trabalhos, como se nada tivesse acontecido. Até que um bebum levantou-se, pegou o chapelão psicodélico do Mick e fez um "barata-voa".

Hoje somos mais educados e ensinamos direitinho o caminho do Corcovado e do Pão de Açúcar. Sem zoeira. Graças aos deuses do futebol, os turistas trouxeram uma alegria e um bom humor que andavam ariscos na cidade.

Todos os destinos, no entanto, levam ao Maracanã, palco da final. O velho estádio só existe na fotografia na parede --e como dói!-- mas bem perto dali um pouco do clima verdadeiramente esportivo resiste. Num botequim, que não podia ser em outro lugar. Fundado na década de 1950, o Bode Cheiroso é um clássico, à rua General Canabarro, 218. Quase ninguém o conhece pelo nome oficial: Bar Macaense. Tampouco serve-se bode no local: o forte são as sardinhas.

As galeras costumam ali se reunir, em confraternização antes e depois dos jogos, naquela base: "Se você perder, paga as cervejas". Bigode, garçom já aposentado, criou o mais apreciado "chá de macaco" do Rio, cuja receita é conhaque São João da Barra, licor de mel Dubar, um limão com casca e sem miolo, açúcar e gelo. Tudo batido. Beba sem susto.

O SAMBA CONTRA-ATACA

Parece que, para gostar de futebol, é preciso ter ouvido de lata. Das músicas patrocinadas da Copa, não escapa uma.

Sorte que artistas espontâneos --como Luciana Rabello-- ainda insistem. Com 37 anos de dedicação ao choro, a cavaquinista apresenta o primeiro CD em que aparece cantando, com voz firme e afinada. "Candeia Branca" (Acari Records, R$ 30) é um disco de "samba de regional", com arranjos de Maurício Carrilho para composições de Luciana e letras de Paulo César Pinheiro. Sem pachecadas nem exotismos de sala VIP, é a melhor trilha para o Mundial no Brasil.

NO TÚNEL DO TEMPO

Por que, no meio de tanto lixo, nenhum chorinho para nos livrar a cara? O gênero musical carioca por excelência acaba de ganhar um estudo definitivo. "O Baú do Animal" (Folha Seca, R$ 30, 278 págs.), do bandolinista e maestro Pedro Aragão, é um volume curioso porque é sobre outro livro, mais curioso ainda: "O Choro", de Alexandre Gonçalves Pinto, apelidado o Animal, publicado originalmente em 1936.

Durante anos o estilo arrevesado e os estranhos causos relatados pelo Animal foram desconsiderados por pesquisadores. Até que Aragão nos presenteasse com análises inéditas que são como a decifração de mensagens enviadas em garrafas pelo túnel do tempo sobre as fontes populares da música mais sofisticada da cidade.

O ÚLTIMO FILME

A Cinelândia nasceu quando a praça no fim na avenida Rio Branco começou a concentrar as melhores salas de cinema. A partir dos anos 1980, elas foram desaparecendo. O Odeon, construído em 1932, é o último dos moicanos. Não se sabe por quanto tempo mais. No início do mês fechou as portas "para manutenção", e o grupo que o administra não dá previsão para reabri-las. Falta grana.

Foi em suas poltronas que o autor deste diário assistiu não só a inúmeros filmes como também a um musical histórico, em 2002: "O Samba é Minha Nobreza", produzido por Hermínio Bello de Carvalho, com Roberto Silva, Cristina Buarque, Teresa Cristina, Pedro Miranda, Pedro Paulo Malta, Marcos Esguleba, entre outros, no palco. Com não menos emoção, viu também lá os gols de Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo contra a Inglaterra, na Copa de 2002. Lances lindos, dignos do telão.


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