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Diário de Washington

O MAPA DA CULTURA

Não pise na grama

A capital americana vai ao labirinto

RAUL JUSTE LORES

Em tempos de polarização inédita entre republicanos e democratas, até o vasto gramado do National Mall, o parque que liga o Capitólio ao memorial a Lincoln, virou motivo de discórdia.

Após o governo gastar US$ 16 milhões (cerca de R$ 36 mi) para recuperar parte do gramado, a administração dos parques nacionais quer colocar limites a eventos ali.

Organizações que montam feiras e shows terão de usar piso protetor desmontável sobre a grama e estacas especiais para sustentar tendas e barracas, além de pagar taxas maiores de conservação.

Uma feira de livros já decidiu sair do gramado, assim como uma Maratona de Energia Solar, com protótipos feitos por laboratórios universitários.

Para muitos frequentadores, o excesso de zelo com o gramado renega a história do lugar.

Da marcha contra a segregação racial que transformou Martin Luther King em um ícone instantâneo em 1963 à enorme colcha de retalhos com os nomes das vítimas da Aids, desfraldada em pleno governo Reagan, o Mall já foi orgulhosamente pisoteado por várias décadas. Até o filme "Forrest Gump" (1994) mostrou seu espelho d'água invadido nos protestos contra a Guerra do Vietnã.

Ao contrário de seu primo mais jovem, o Eixo Monumental de Brasília, o Mall é muito movimentado. Recebe 25 milhões de visitantes ao ano. Em vez da Esplanada dos Ministérios, onde os prédios se relacionam melhor com seus estacionamentos que com o gramado em frente, o Mall é cercado por 20 dos museus mais visitados do país, mantidos pela fundação Smiths- onian --que conseguiu uma trégua temporária para manter no local um festival de arte popular.

O normal é que o Mall seja cruzado a pé. Piqueniques e jogos de futebol continuam a acontecer no gramado, alheios à polêmica.

LABIRINTO ILUMINADO

Já o National Building Museum, o museu de Arquitetura, Engenharia e Planejamento Urbano, quer ter seus corredores pisoteados por mais gente. A programação de verão inclui um verdadeiro playground de luxo: um curioso labirinto de madeira desenhado pelo arquiteto Bjarke Ingels, do escritório dinamarquês BIG, que remete ao do filme "O Iluminado" (1980), de Stanley Kubrick.

Todo de madeira bem clara, com 335 m², ele tem paredes de 5,5 metros de altura nos extremos, que vão ficando menores quando se chega ao centro.

A instalação tem atraído centenas de visitantes, que demoram uns bons minutos para conseguir sair dali. De dentro do labirinto, eles acabam olhando para o alto e usando as colunas de 23 m de altura do museu como bússola. Um namorado pediu a mão da amada no meio do labirinto, em um romântico beco sem saída. A obra é aperitivo para uma retrospectiva do BIG que será aberta em janeiro.

DESASTRES NO MUSEU

A maior frequência do museu, felizmente, tem lotado as salas de uma ótima exposição sem o mesmo apelo pop do labirinto. "Design- ing for Disasters" mostra como arquitetos e governos têm lidado com fenômenos naturais, de enchentes e terremotos a furacões e tsunamis. Com exceção de algumas obras do Japão, a mostra se concentra principalmente em tragédias nos EUA e em obras preventivas feitas em bairros sujeitos a alagamentos ou que sofrem com deslizamentos ou furacões. Há também projeções de ideias mirabolantes para blindar Nova York de novas supertempestades, como a Sandy, de 2012.

MBA NO PALCO

Um curso de teatro para executivos virou um "MBA light" para a superpopulação de burocratas da capital americana. Não se trata, porém, de buscar a essência de "Hamlet" ou de "Rei Lear".

Em aulas noturnas de duas horas e meia de duração na Shakespeare Theatre Company, os executivos aprendem com atores do grupo técnicas teatrais para projetar melhor a voz e para evitar que o nervosismo transforme uma apresentação pública em uma corrida desenfreada de palavras.

Valem exercícios vocais e gincanas para explorar a dimensão de um palco, com o grupo todo caminhando em ziguezague sem se chocar. Embora mais próximo de um cursinho para palestras TED do que de uma experiência no Teatro Oficina, provê uma renda importante para uma companhia que não tem apoio governamental.


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