Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Minha história - Vânia Ibraim

Manicure delivery

Ex-funcionária da área de saúde adota macacão e moto para ir ao encontro de clientes que querem fazer pé e mão em casa, no Rio

MARIA PAULA AUTRAN DE SÃO PAULO

RESUMO Vânia Ibraim, 36, estudou instrumentação cirúrgica, mas, há cinco anos, criou o serviço de "manicure express". Chega à casa das clientes de moto decorada com borboletas e uniformizada, com um macacão. Oferece esmalte importado e preza pela higiene. Mão e pé saem por R$ 60, preço médio de um salão na zona sul carioca. Atende em média seis clientes por dia. Hoje, tenta se formalizar.

-

Nasci no Rio, fui criada na comunidade da Maré. Com 15 anos, saí de casa. Já fazia curso profissionalizante por exigência da minha mãe, que é manicure desde os 14 anos.

Trabalhava num consultório de odontologia, meu sonho era me formar em instrumentação cirúrgica na área da Marinha. Mas não deu porque engravidei.

Continuei um tempo na área da saúde, depois fui para a da beleza, já como manicure em Imbariê, Duque de Caxias. Comecei a me destacar pela forma de decorar [fazer desenhos nas unhas].

Consegui meu primeiro emprego em um salão em Guadalupe, depois no centro, depois no Flamengo. Lá, o patrão adorou a minha atitude.

Fui vendo a diferença de clientes, de padrão de vida, e falei: "Aqui é possível dar certo, porque as mulheres valorizam o trabalho". Mas havia muitas deficiências e eu não achava justo o valor que elas pagavam.

Fui vendo a preferência delas, do que reclamavam e fui aprimorando. Elas gostavam de um esmalte importado, eu procurava saber como comprava e comecei a comprar os meus esmaltes diferenciados, cremes...

Uma vez, fiz a unha de uma cliente VIP e o boca a boca começou. Quando vi, já tinha material diferenciado e as clientes adorando.

Depois de três anos, conversei com meu patrão para ver se ele adequava o salão à modernidade, por exemplo trocando uma estufa por uma autoclave [para esterilização]. Mas acabei tendo de me adaptar ao método de esterilização do consultório, com pastilha de formol.

Por minha conta, comprei vários alicates e "marmitinhas" para esterilizar. E eu oferecia às minhas clientes que elas comprassem o próprio alicate. Até hoje elas têm que ter o próprio kit.

Mas aquilo me incomodava muito. Botei a cara para bater e me demiti [em 2008].

Depois arrumei um namorado que me incentivou a andar de moto. Com isso, me alforriei e consegui atender outros bairros.

Mas não queria ter a moto só para ir trabalhar. Pensei: "Tenho que fazer propaganda, preciso de mais clientes para bancar a manutenção".

Comecei a atender em São Conrado e vi um monte de mulheres lendo na pracinha da praia enquanto a babá tomava conta do filho. Não perdi tempo. Num belo domingo, me arrumei, fui para lá cedinho e comecei a panfletar.

Não tinha quem não parasse. Não era normal uma "negona" em um sol daquele, maquiada, com macacão vermelho numa moto dourada.

Quando eu me vi na zona sul, falei: "Não posso entrar na casa das clientes de qualquer maneira. Tem marido, tem filho, tem senhorinhas...". Então decidi pelo uniforme e, por causa da moto, teria que ser macacão. E entrou a borboleta, que é transformação, era eu.

Depois disso, a agenda começou a aumentar.

Hoje moro na cidade universitária, é uma área federal, o paraíso. E, para me recarregar, faço a minha feijoada "black" com baile de charme [gênero musical].

Sempre foi meu sonho ter meninas uniformizadas, minhas borboletinhas, só não sabia como. Hoje eu tenho três borboletinhas freelances, que ainda não andam de moto. Estou tentando formalizar essa empresa.

Depois que conseguir enfatizar que a minha forma de trabalhar é diferenciada e que dá certo, meu sonho é ter um centro de treinamento, uma cooperativa de manicures.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página