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Análise inflação

Inflação brasileira flutua ao longo do ano e não deve desgarrar

BC deverá optar por aumento moderado dos juros e tentará evitar que alta de preço se espraie na economia

É provável que, nos 12 meses terminados em março, a inflação chegue a 6,6%. [mas] o cálculo reflete o passado

BRÁULIO BORGES ESPECIAL PARA A FOLHA

É bastante provável que, nos 12 meses terminados em março, a inflação medida pelo IPCA chegue a 6,6%, ligeiramente acima do teto da meta (de 6,5%). No final de 2012, a inflação, sob essa métrica, chegou a 5,8%, e, em janeiro e fevereiro, estava em 6,2% e 6,3%, pela ordem. Mas isso quer dizer que a inflação está em aceleração, rumo a 7% ou mais nos próximos meses? A resposta é não.

Em primeiro lugar, é importante apontar que, por definição, o cálculo da inflação acumulada nos últimos 12 meses reflete o passado.

Uma inflação de 6,6% acumulada entre abril do ano anterior e março do ano corrente pode refletir, por exemplo, uma alta de 6,6% em abril do ano anterior e zero nos 11 meses seguintes, ou 0,53% ao mês ou ainda uma taxa zerada entre abril e fevereiro e uma alta de 6,6% em março.

Alguém poderia contra-argumentar: "Tudo bem, mas na média de janeiro e fevereiro de 2013 o IPCA subiu 0,73% ao mês, taxa que corresponde a um ritmo anualizado de pouco mais de 9%".

Trata-se da mais pura verdade. Mas aqui surge outro ponto: a questão da sazonalidade. Em contraste com quase todos os institutos estatísticos mundo afora, o IBGE divulga as séries de inflação sem ajuste sazonal.

A evolução das taxas médias de variação em cada mês de 2012 aponta que a inflação brasileira apresenta uma sazonalidade acentuada, ficando pressionada nos começos de ano, cedendo ao longo dos segundos trimestres e início dos terceiros e voltando a acelerar nos finais de ano.

A observação da inflação dessazonalizada -já considerando projeções de consenso do Focus/BC até o fim de 2013- aponta que o pior momento foi o 3º trimestre de 2012, quando a alta de preços foi superior a 7,5% ao ano, vinda de pouco menos de 4,5% ao ano na primeira metade do ano passado.

Houve uma descompressão de cerca de um ponto percentual ao longo do final de 2012 e do começo deste ano e a expectativa de consenso é que, ao fim de 2013, o ritmo de elevação do IPCA esteja correndo perto de 5% ao ano.

Ou seja: embora a projeção do mercado aponte para uma alta de 5,7% do IPCA no acumulado de janeiro a dezembro de 2013 -apenas 0,1 ponto percentual abaixo dos 5,8% de 2012-, na ponta o ritmo de elevação da inflação deverá passar de 7% ao ano no último trimestre de 2012 para 5% ao ano ao término deste ano, dessazonalizado.

As reduções da energia elétrica e da cesta básica deverão, em conjunto, gerar um alívio de cerca de um ponto percentual no curto prazo, mas a recomposição do IPI para os bens duráveis e os reajustes da gasolina e diesel deverão ter impacto semelhante, na direção oposta.

Essa desaceleração da inflação no varejo deverá acontecer mesmo com a perspectiva de que o crescimento médio dessazonalizado do PIB tenha forte aceleração.

Essa evolução dissonante entre o PIB e o IPCA ao longo de 2013 reitera a avaliação de que a expressiva alta da inflação na segunda metade de 2012 refletiu, principalmente, a combinação de choques desfavoráveis (commodities agrícolas, câmbio e preços de fretes rodoviários).

Diante desse diagnóstico, os manuais de política monetária sugerem que um Banco Central operando em um sistema de metas de inflação deve acomodar o(s) choque(s) primário(s) nos intervalos da meta e combater seus efeitos secundários -isto é, evitar que eles se espraiem para todos os preços da economia, sobretudo quando não há uma devolução integral dessas pressões primárias (que é caso no momento atual).

É nesse contexto que parece ser bastante provável que o BC opte por um aumento moderado da Selic nos próximos meses, alterando o status da política monetária de "anticíclica" para "neutra", tendo como pano de fundo uma economia que já neste 1º trimestre deve ter crescido em um ritmo anualizado superior a 4% ao ano.

BRÁULIO BORGES é economista-chefe da LCA Consultores.


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