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Sem governo, meta teria sido furada em julho, diz analista
Estimativas mostram que, sem redução de preço por desoneração tributária, índice estaria mais elevado
Índice oficial teria chegado a 8,49% em março, diz MCM; resultado indica inflação real alta
Não fossem as desonerações de impostos, promovidas pelo governo em setores e produtos selecionados, a inflação já estaria acima do limite estipulado pelo governo (6,5%) desde julho de 2012.
A estimativa, feita pelo economista Fernando Genta, da consultoria econômica MCM, sugere que a recente aceleração da inflação poderia ser mais forte do que mostra o indicador oficial.
Nesse cálculo, o economista expurgou preços de produtos que recuaram graças à ação do governo, com efeitos considerados temporários sobre a inflação, como veículos, móveis e eletrodomésticos (que tiveram IPI reduzido), além da gasolina e do álcool, cuja Cide (Contribuição sobre Intervenção do Domínio Econômico) está zerada, porém não foi abolida pelo governo.
Em 2013, também foi excluída a energia elétrica, que registrou deflação graças à revisão de contratos promovida pelo governo.
"Como esses choques têm efeito temporário sobre a inflação, a tentativa de filtrar a tendência inflacionária é útil para termos uma real dimensão do comportamento de preços", diz Genta.
Sem essas medidas, o IPCA teria atingido 8,49% nos 12 meses encerrados em março, afirma Genta.
Conta do economista José Márcio Camargo indica a mesma tendência de estouro da meta, embora tenha chegado a número menor: IPCA de 7,38% em fevereiro.
A diferença pode ser em parte explicada porque Camargo considerou em seu cálculo tanto o efeito de tributos que foram cortados e puxaram o IPCA para baixo como o impacto dos que tiveram alta (caso dos tributos sobre cigarros e bebidas).
INFLAÇÃO ELEVADA
Independentemente da diferença nos cálculos, a conclusão é parecida: os resultados indicam que a inflação está muito elevada.
"As medidas reduziram o índice que mede a inflação, mas não mexeram em nada na inflação em si, que é uma tendência de alta generalizada de preços", diz Camargo, professor da PUC-Rio e sócio da Opus Investimentos.
"Esse efeito tende a se esgotar se as causas de pressão sobre a inflação não forem controladas", diz Alexandre Schwartsman, sócio da Schwartsman & Associados.
Para Camargo, existe o risco de que as medidas tenham, no médio prazo, o efeito inverso, provocando pressões inflacionárias.
Ele exemplifica: os recursos que consumidores passam a poupar, por exemplo, com a redução da energia podem ser usados para o consumo de outros bens e serviços, pressionando os preços.