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Trilho chinês ruim reduz capacidade da Norte-Sul

Ferrovia tem aço de baixa qualidade, aponta Ministério dos Transportes

Trecho problemático vai de Goiás ao Tocantins; material importado não teve fiscalização adequada, segundo TCU

DIMMI AMORA BRENO COSTA DE BRASÍLIA

Pelo menos 855 quilômetros da ferrovia Norte-Sul foram construídos com trilhos de baixa qualidade, que reduzirão a quantidade de carga transportada pela via e ameaçam a sua segurança.

A constatação é do Ministério dos Transportes, responsável pela obra, em relatório inédito obtido pela Folha. Para não chamar de moles os trilhos de aço importados da China, os técnicos que vistoriaram as obras afirmam no documento que o material tem "baixa dureza".

A falta de qualidade foi identificada mesmo sem a inauguração da via. Até agora, passaram pelos trilhos já assentados apenas trens transportando carregamentos da própria obra.

Os técnicos encontraram o aço com vários defeitos. Há partes se despedaçando e manchas que indicam que os trilhos podem trincar.

O relatório aponta que, caso a ferrovia estivesse funcionando com esses trilhos, os problemas levariam a uma redução de sua capacidade. Nessas condições, os trens não poderiam circular --por segurança-- na velocidade e com o peso projetados.

A previsão inicial do governo era que o trecho vistoriado da ferrovia, que vai de Anápolis (GO) a Palmas (TO), poderia estar transportando, já neste ano, cerca de 5 milhões de toneladas por mês --mais que o dobro do volume de soja que saiu de caminhão da região Centro-Oeste.

TRILHO CHINÊS

Os trilhos desse trecho da Norte-Sul começaram a chegar da China em 2007. Em contratos que ainda são investigados por órgãos de controle, o governo já recebeu 151 mil toneladas (222 mil barras), ao custo de R$ 470 milhões. Parte dos trilhos segue depositada em um terreno, sem cobertura.

A chegada do material não foi precedida de uma fiscalização adequada pela Valec, responsável pela obra, segundo o TCU (Tribunal de Contas da União). A estatal não fez as checagens para verificar se os trilhos tinham a rigidez determinada no contrato.

Após ser alertada dos problemas pelo ministério, a Valec decidiu contratar uma empresa privada para realizar o serviço. A concorrência deve acontecer em maio.

A estatal também foi acusada pelo TCU de receber trechos da obra sem a devida fiscalização. Com isso, parte do que já estava pronto está sendo destruída pela ação do tempo, conforme a Folha publicou em junho de 2012.

Há defeitos construtivos que vão onerar para sempre quem administrar a ferrovia, o que vai encarecer o custo do frete. Um deles é que a plataforma onde os trilhos foram assentados tem tamanho menor que o necessário, aumentando, assim, o custo de manutenção da via.

O TCU encontrou outros defeitos, como má qualidade dos dormentes (madeira ou concreto onde são assentados os trilhos) e curvas fora das especificações, o que impedirá transitar na velocidade projetada, de 60 quilômetros por hora.

FORNECEDOR

Os trilhos da ferrovia Norte-Sul foram fornecidos pela Dismaf, que venceu as duas licitações para a compra, feitas em 2007 e 2009. Nos dois casos, ela adquiriu os trilhos da companhia chinesa Pangnang, uma das maiores empresas do ramo no mundo.

A Dismaf, de Brasília, disputa concorrências públicas em vários ramos. Pertence aos irmãos Basile e Alexandre Pantazis, que eram filiados ao PTB e ligados ao senador Gim Argello (PTB-DF).

A Valec tentou voltar a comprar trilhos para dois outros trechos ferroviários em construção --a Norte-Sul entre Goiás e São Paulo e a Ferrovia Oeste-Leste, na Bahia. As duas tentativas foram barradas pelo TCU por indícios de irregularidades.


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