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Após 10 anos, dívida pública volta a crescer, dizem bancos
Cortes de impostos e gastos maiores do governo revertem rota de queda
Governo afirma que as estimativas de bancos "não têm fundamento" e são "exercícios que não se sustentam"
A estratégia do governo de cortar impostos e elevar gastos para tentar recuperar a economia já ameaça a confiança na capacidade do país de manter sua dívida pública em trajetória de queda.
Analistas de grandes bancos começam a projetar um aumento do endividamento, numa reversão da tendência verificada desde 2003, quando o PT assumiu o governo.
A estimativa do Santander é que a dívida acumulada pelo setor público alcance patamar equivalente a 36% da produção nacional (PIB) neste ano --depois de fechar 2012 em 35% do PIB-- e chegue a 38% em 2015.
Relatório do banco, que é um dos primeiros a abandonar a trajetória de queda no endividamento, enfatiza que o maior relaxamento fiscal se dará num cenário de menor crescimento econômico.
O Itaú também adotou a mesma linha e prevê que a dívida chegue a 35,9% do PIB no final deste ano e em 36,3% do PIB em 2014, seguindo tendência de alta até chegar a 42,1% em 2020 --patamar similar ao do fim de 2009.
Essas projeções vão contra argumento da equipe econômica de que o recente relaxamento fiscal com ampliação de gastos e desonerações de impostos para estimular a economia não afetarão a trajetória de queda da dívida.
A relação dívida/PIB é um dos principais indicadores acompanhados por investidores para verificar a solidez das contas de um país e afeta diretamente o custo de financiamento do governo e do setor privado.
Interlocutores da área econômica criticam as projeções dos bancos privados e dizem que as estimativas "não têm fundamento" e são "exercícios que não se sustentam".
Técnicos do governo argumentam que a economia mínima necessária para reduzir a dívida é bastante inferior à que vem sendo realizada.
Segundo o economista Cristiano Souza, do Santander, para manter a dívida estabilizada, seria necessário que o setor público economizasse algo equivalente a 2,2% do PIB e que a economia crescesse entre 3% e 3,5%. Mas o banco prevê que a economia feita pelo governo será de 1,5% do PIB neste ano, quando a economia cresceria 2,8%.
CAUTELA
Apesar de uma possível reversão na trajetória de queda, o Santander destaca que o quadro exige "cautela", mas não inspira "grande preocupação". "A mensagem principal aqui não é de desespero", diz o banco.
Nas projeções do Santander, a dívida deve subir, mas não deverá romper os 43% do PIB, nível registrado em 2008, quando o Brasil recebeu o título de grau de investimento.