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Entrevista - André Perfeito

Governo criou barreira a horizonte de empresários

Economista que acertou previsão do PIB no primeiro trimestre diz que ainda está pessimista com retomada dos investimentos

Para ele, consumo deve manter moderação e setor externo não deve ajudar a impulsionar economia neste ano

MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO

O dia de ontem foi de revisões em grande parte das consultorias econômicas e nos bancos.

A maioria dos analistas errou: esperavam mais da economia no primeiro trimestre.

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Corretora, foi um dos poucos que acertaram. Para ele, o PIB não crescerá mais do que 2,1% neste ano.

Nesta entrevista, ele se mostra pessimista com a volta dos investimentos e diz que o governo encurtou o horizonte dos empresários.

Folha - Sua previsão foi uma das poucas que acertaram o PIB do primeiro trimestre. Qual a diferença entre sua leitura e a dos demais analistas?
André Perfeito -A gente está passando por uma acomodação no consumo das famílias, que agora ficou mais evidente. Mas, em alguma medida, já estava refletido na desaceleração da geração de empregos formais. Soma-se a isso o resultado do setor externo. Falamos de um deficit comercial de US$ 5 bilhões. É uma situação muito difícil!
Esses dois fatores, que tendem a persistir ao longo do ano, nortearam minha leitura mais do que a retomada dos investimentos, que tem sido a aposta dos demais economistas. Mesmo esse crescimento do investimento, que é bem-vindo, foi muito impactado pela produção de caminhões por causa da supersafra.

Vê com reservas a volta do investimento?
Não vejo esse processo se generalizando e se intensificando nos próximos meses.
De forma geral, os economistas estavam muito otimistas. O crescimento médio por trimestre em 2011 e 2012 foi de 0,35%. Crescer 0,9% [como muitos esperavam] é mais do que o dobro. O governo estava trabalhando com 3,5% neste ano. Tem que crescer mais de 1% por trimestre para chegar a isso. Não tem como.

O que espera do resto do ano?
Acho que a economia vai crescer 2,1% em 2013.
Vejo manutenção nos dois itens --consumo estacionando e setor externo não contribuindo de forma positiva. A recuperação do investimento ainda me parece tímida.

Por que o pessimismo com o consumo?
Porque já atingiu um patamar elevado. Não vai cair, não será nenhum desastre, mas as famílias já consumiram suas TVs de plasma. Por mais que o governo queira insistir na expansão do crédito via BB e Caixa, não dá mais para forçar o consumo.
O recado é o seguinte: os consumidores já fizeram a lição de casa, mas, sozinhos, não podem levar a economia para frente. Esse calor acaba vazando para todos os lados [as importações aumentaram]. Nós ajudamos o mundo mais do que ele nos ajuda.

Seu cenário prevê retomada?
No final de 2013, à medida que entrem os investimentos para a Copa do Mundo e nos portos. Mas, no segundo e no terceiro trimestres, ainda estou preocupado com o estado geral da economia, principalmente com a conta externa.
Por isso, apesar dos riscos inflacionários, não se pode fazer uma política monetária muito severa para não atrapalhar ainda mais.
É preciso entender que há uma mudança profunda em curso na economia brasileira.
A Selic foi cortada para baixo do piso institucionalizado, que era a poupança. Isso tem uma série de desdobramentos, a taxa de lucro caiu.
O governo precisa conduzir essa transição de forma serena e eu vejo muito experimentalismo, que gera mais ruído do que o necessário.

Por exemplo?
Cortamos os juros, abriu-se espaço fiscal. É correto que o governo devolva parte disso via corte de impostos.
Só que a impressão que dá é um samba de uma nota só: IPI para automóveis, IPI para automóveis... Parece que não há planejamento. O governo não conseguiu fornecer um norte para o país e isso gerou uma descoordenação de expectativas. Não só do mercado, mas também as empresariais.
Em vez de apontar um cenário, o governo gerou mais tumulto e os empresários se retraíram mais ainda.

Quanto tempo leva para digerir isso?
Não é uma questão de tempo, e sim de postura do governo. O futuro ficou impedido. E a culpa é do governo.
Por causa da condução da política econômica e da evidente antecipação do jogo eleitoral, criou-se uma barreira no horizonte de planejamento dos empresários, em que a Copa do Mundo e as eleições representam o fim de um ciclo.
Falta ao governo falar que esse processo é perene, que vai continuar, seja quem for o presidente. Para quem acha que o investimento vai bem em 2013, desculpe-me. Se subir 6%, não será bom. Caiu 4% no ano passado.

Como o governo deve resolver esse bloqueio no crescimento?
Espero que não seja por meio de pacotes mirabolantes. Deve ser com serenidade. O mais importante é fazer voltar o investimento e, para isso, o governo não pode travar o futuro em 2014.


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