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Análise política internacional

Fim da hegemonia dos EUA aponta para mundo sem líder

Cientista político esboça nova ordem organizada em torno de forças locais

LUIZ CALADO ESPECIAL PARA A FOLHA

Incapaz de impor soluções para desafios globais, a hegemonia internacional dos EUA deve em breve dar lugar a um mundo sem líderes.

Esse é o ponto de partida para "O Fim das Lideranças Mundiais" (ed. Saraiva), do cientista político Ian Bremmer. O autor procura por um sucessor, mas não o encontra e leva o leitor por cenários possíveis, especulando como o equilíbrio de poder se redistribuirá.

Nem alarmista nem utópica, a obra aponta oportunidades e riscos, num estágio em que o poder será partilhado de forma mais ampla.

EMERGENTES

A vitória de Roberto Azevedo, brasileiro, na Organização Mundial do Comércio (OMC) mostrou que os órgãos multilaterais terão seus representantes europeus ou americanos substituídos por países emergentes.

Sem ironia, até os chineses têm exigido uma escolha mais democrática para essas instituições.

Porém, controlar organismos multilaterais não refletirá uma maior projeção política, uma vez que, segundo autor, tais instituições perderam completamente a importância: FMI, Banco Mundial, OMC e Nações Unidas, que hoje só servem para gerar estudos e propostas que ninguém lê. Em resumo: elas não lideram mais.

Se as iniciativas multilaterais ruíram, como equacionar desafios que transcendem fronteiras, como a questão climática, o crescimento desordenado da população, o perigo dos armamentos nucleares e, por assim dizer, a estabilidade da economia mundial?

Com essa chamada, o livro passa a focar principalmente os governos. E grupos como o G20 não parecem ser os salvadores da pátria.

Afinal, no auge da crise financeira em 2008, quando os esforços de busca de uma solução concentraram-se sob sua égide, nada se produziu de substancial.

Como ninguém teve liderança para impor uma resolução definitiva a estes problemas, temos a situação que garante o título da obra. O autor mostra não haver país ou organização mundial capaz de preencher esse vazio.

G0

As implicações são vastas e profundas. No capítulo mais ousado, Bremmer faz previsões e descreve quatro cenários possíveis, concluindo ser provável um mundo com Estados fortes, mas sem liderança global. Muitos leitores vão rejeitar essa afirmação.

Embora ele sustente que não se trata da história da "ascensão do resto", a tese identificada é uma consequência direta do aumento relativo da importância dos Estados emergentes, cidades e empresas.

Nesse ponto, ele peca por não dar atenção suficiente aos papéis particulares das empresas, da América Latina e das cidades. Dessa forma, o autor não reflete que, se o mundo se tornou G0, é porque a economia e o comércio deixaram de lado a política.

Bremmer aponta que não se estabeleceram sistemas de controle suficientes para a globalização. Porém, não destaca o advento de um novo poder, via autorregulação, a qual, embora sem vínculo com governos ou órgãos multilaterais, possui força global. Iniciativas como o CDP (Carbon Disclosure Project) e o Relato Integrado comprovam isso, ao endereçar as questões da emissão de CO2 e da falta de consistência nas publicações empresariais.

Ainda assim, os pontos positivos da obra superam os negativos --uma peça importante para entender a transição entre o mundo que conhecemos e outro que ainda não temos como mapear.

O FIM DAS LIDERANÇAS MUNDIAIS
AUTOR Ian Bremmer
EDITORA Saraiva
TRADUÇÃO Luiz Euclydes Frazão
QUANTO R$ 44,90 (232 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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