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ONG aderem a fusões e à cartilha do setor privado

Cortar custos, demitir e eliminar rivais deixam de ser tabu no 3º setor

ONGs juntam forças para profissionalizar gestão, prestar contas e ganhar força na captação de recursos

TONI SCIARRETTA DE SÃO PAULO LIGIA TUON COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Considerado um tabu no terceiro setor, a cultura financista do setor privado ganha adeptos entre as ONGs (organizações não governamentais) com ambição de ampliar o alcance do seu trabalho.

Para ganhar mercado, essas organizações decidiram contratar consultorias de primeiro time para estruturar fusões, identificar gargalos e propor melhora na gestão.

Também passaram a terceirizar serviços administrativos, fazer joint ventures em novos trabalhos e a contratar serviços de corretores profissionais para captar mais.

Foi com esse objetivo que duas das mais conhecidas organizações dedicadas à reabilitação de deficientes físicos --a AACD (Associação de Apoio à Criança Deficiente) e o Lar Escola São Francisco-- decidiram se fundir no ano passado. O processo contou com o trabalho da Delloite e do escritório de advocacia Mattos Filho e a implementação ainda está em curso.

"Ao ampliar nossas unidades em São Paulo, começamos a atender muitos dos pacientes que também iam ao Lar Escola São Francisco", conta João Octaviano Machado Neto, superintendente geral da AACD. "Nos pareceu bastante natural que houvesse uma fusão entre as duas."

Estima-se que as doações ao setor social chegam a R$ 10 bilhões ao ano no país. No entanto, cada uma das 300 mil ONGs brasileiras fica, em média, com R$ 30 mil.

"O setor começa a sentir necessidade de usar o capital de forma mais eficiente e em maior escala", disse Leonardo Letelier, presidente da Sitawi, ONG especializada no financiamento de outras organizações. A Sitawi quer criar um fundo específico para financiar a fusões entre ONGs no Brasil.

Embora gere ganhos futuros, o processo é burocrático, envolve custos e demissões. As organizações são também muito ligadas aos seus fundadores, que têm dificuldade em transferir as responsabilidades a outras pessoas. "Isso também acontece nas empresas. A diferença é que, no setor privado, existe um papel mais forte do dinheiro", disse Letelier.

Esse foi o maior desafio na fusão entre a AACD e o Lar Escola. "Mais do que o valor comercial, as marcas levam a relação afetiva do paciente. Essa cultura não pode deixar de existir no processo", conta João Octaviano.

PARCERIAS

Estudo da consultoria McKinsey diz que um milionário americano doa 3,2% do que ele ganha por ano do rendimento de US$ 1 milhão. Com esse mesmo US$ 1 milhão, o brasileiro doa apenas 0,4%. "Isso ocorre porque nossos marcos legais são restritivos à doação", disse Marcos Kisil, presidente do Idis (Instituto de Desenvolvimento de Investimento Social).

"A legislação do terceiro setor é uma colcha de retalhos. Os grandes doadores preferem fundar sua própria organização a ajudar as que já existem", ressalta Carol Civita, voluntária e filantropa.

O mesmo estudo mostra que as doações no país poderiam crescer até oito vezes.

Isso vem atraindo ONGs multinacionais a procura de parcerias com organizações brasileiras. "Tem sempre um componente econômico por trás dessas tendências. A parceria permite um trabalho em escala, o custo também é reduzido", disse Kisil.

As parcerias entre ONGs brasileiras são frequentes. A comunidade judaica e a católica conseguiram um jeito de captar juntas mais doações em eventos beneficentes.

"Dividimos os custos e também os lucros", conta Célia Parnes, presidente da Unibes (União Brasileiro Israelita do Bem-Estar Social), referindo-se à parceria com a Liga Solidária (antiga Liga das Senhoras Católicas).


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