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Planalto avalia que reação contra inflação demorou
Para assessores, dólar valorizado poderá exigir alta ainda maior dos juros
Falta de diagnóstico correto sobre a economia gerou clima negativo contra governo Dilma Rousseff
O governo Dilma Rousseff demorou a reagir contra a onda de pessimismo na economia tanto no enfrentamento do discurso da oposição como na adoção de medidas eficazes para segurar a inflação.
A avaliação é de assessores presidenciais, preocupados neste momento com a valorização do dólar, que pode ter impacto negativo na inflação e forçar o Banco Central a subir ainda mais a taxa básica de juros da economia.
Segundo a Folha apurou, o governo não deseja uma forte desvalorização cambial, por considerá-la, hoje, o principal risco na economia.
Na opinião de assessores, ela teria mais efeitos negativos (alta da inflação) do que positivos (melhora das exportações), podendo afetar o crescimento do país no ano da eleição presidencial.
A equipe de Dilma acredita, por sinal, que se o câmbio ficar sob razoável controle não há motivos para nervosismo nem preocupação.
Ao contrário das previsões de economistas e da oposição, o governo enxerga pela frente um cenário otimista para a economia, com crescimento maior do que 2012, desemprego baixo e inflação recuando.
A crítica interna, segundo assessores presidenciais, é que a chefe só veio de fato a reagir contra o que classificam de "visão pessimista irreal e exagerada" sobre a economia na semana passada, quando pesquisa do Datafolha indicou queda de oito pontos em sua popularidade e o dólar subiu, obrigando o governo a adotar medidas para detê-lo.
INCERTEZA
Um assessor diz que isso ocorreu porque o governo estava dividido sobre os rumos da inflação no início de 2013 e menosprezou seus impactos na economia --o PIB do primeiro trimestre só cresceu 0,6% e uma das razões do fraco desempenho foi a queda no consumo provocada pelos preços elevados.
O auxiliar lembra que, enquanto o Banco Central alertava desde o início do ano para o perigo da inflação alta, Planalto e Ministério da Fazenda confiavam que seria possível baixá-la com "medidas artificiais", como corte na conta de energia elétrica, desoneração da cesta básica e postergação do aumento das tarifas de ônibus.
O resultado, segundo o auxiliar, é que a inflação demorou a dar sinais de queda e afetou a popularidade presidencial, dando munição para os ataques da oposição no começo de abril.
Naquele mês, o Banco Central decidiu iniciar um novo ciclo de aperto na política monetária, subindo os juros em 0,25 ponto percentual. Depois, em maio, elevou a dose para 0,50 ponto, fazendo a taxa Selic atingir 8% ao ano.
Hoje, a avaliação é que o BC poderia ter começado mais cedo a subir a taxa de juros para reverter as expectativas negativas sobre a inflação, que em maio atingiu 6,5% no índice acumulado em doze meses, o teto do sistema de metas.
A demora em fazer um diagnóstico correto sobre a inflação gerou um clima negativo contra o governo, que atingiu seu auge na semana passada, na avaliação do próprio Palácio do Planalto.
Nas palavras de um conselheiro presidencial, o lado positivo da semana de turbulência é que o governo acordou para a necessidade de reagir não só no discurso mas também no campo da ação.
A presidente Dilma fez ataques aos "pessimistas" em três ocasiões, acertou medidas para aumentar o fluxo de dólar no país e determinou que o ministro Guido Mantega (Fazenda) assumisse compromisso com uma meta de superavit primário de 2,3% do PIB neste ano.
Segundo assessores, Dilma está acompanhando diariamente o "pulso" do mercado de câmbio e não vai deixar que a inflação volte a subir no país. E decidiu que não deixará crítica sem resposta.
No mercado, a avaliação, porém, é que a reação do governo pode ter chegado um pouco tarde, principalmente se o câmbio seguir em alta e pressionar a inflação.