Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

O império das costeletas

Operário convertido em executivo foi responsável pela compra da americana Smithfield, a maior feita por uma empresa chinesa na área de alimentos

DO "FINANCIAL TIMES"

Para o chinês Wan Long, o acordo de aquisição da produtora norte-americana de carne suína Smithfield por US$ 4,7 bilhões representa um longo avanço desde as origens humildes do presidente do conselho da Shuanghui International.

"O que faço é matar porcos e vender carne", afirmou o executivo a um jornal local no ano passado.

Nascido em Luohe, na província de Henan, onde fica a sede de sua empresa, Wan começou a trabalhar na Shuanghui como operário em 1968.

Wan, que tem pouco mais de 70 anos, foi eleito para a gerência da fábrica em 1985. Naquele ano, a empresa teve lucro de 5 milhões de yuans, de acordo com a revista chinesa "Caixin".

Ele hoje dirige um negócio que apresentou lucro líquido de 2,9 bilhões de yuans no ano passado. Como maior produtora de carne da China, a empresa gera 2,7 milhões de toneladas de carne anualmente, abatendo 30 milhões de porcos.

"Nosso objetivo é atingir um faturamento anual de 100 bilhões de yuans durante o período do 12º plano quinquenal [que será concluído em 2015], e depois disso vou me aposentar", disse Wan à "Caixin" dois anos atrás.

A Shuanghui deve atingir 50 bilhões de yuans (US$ 8,2 bilhões) em faturamento neste ano, de acordo com a Bloomberg, e a Smithfield deve gerar US$ 13 bilhões --o que significa que a transação ajudará o executivo a atingir sua meta com dois anos de antecedência.

No último ano fiscal, a companhia americana teve um faturamento de US$ 13,2 bilhões --o lucro líquido foi de US$ 184 milhões.

Desde que o negócio foi anunciado, em 29 de maio, as ações da Smithfield subiram 27,4%.

MAIS PROTEÍNAS

A aquisição da Smithfield pela Shuanghui é a maior tomada de controle acionário já empreendida por uma companhia chinesa no setor internacional de alimentos e bebidas, de acordo com a consultoria Dealogic.

Dados a população da China e o crescente apetite do país por uma dieta com maior teor de proteínas, devido ao crescimento da renda, os bancos antecipam que muito mais transações surgirão nos segmentos de carne, peixes e aves.

"A transação parece uma oportunidade maravilhosa para que duas empresas complementares se unam e para que a Shuanghui tenha acesso à tecnologia de que precisa a fim de subir de patamar em termos de segurança alimentar e produtividade", afirmou um especialista em agronegócio que trabalha em Pequim.

O charme rústico dos líderes das duas empresas também parece se complementar muito bem.

A posição simples de Wan sobre a indústria da carne suína ecoa as palavras de Larry Pope, presidente-executivo da Smithfield.

"Não estamos exportando tanques, armas ou segurança cibernética", afirmou o executivo americano recentemente, avaliando as preocupações quanto a uma possível intervenção das autoridades regulatórias dos EUA. "Estamos falando de costeletas de porco."

Wan disse a outro jornal chinês que seu foco estaria apenas em dirigir sua empresa. Ele assumiu a culpa pelas críticas que a Shuanghui sofreu na mídia depois que um canal estatal de TV reportou que a empresa estava usando aditivos ilegais (cloridrato de clenbuterol) a fim de induzir crescimento mais rápido nos porcos.

ALCANCE GLOBAL

O episódio do aditivo acelerou os esforços do grupo para ampliar sua alcance internacional. Pope informou aos investidores que a Smithfield vinha conversando com a Shuanghui desde 2009.

Um antigo representante do Departamento da Agricultura norte-americano em Pequim recorda ter sido procurado por Wan depois de uma viagem malsucedida à América do Sul.

"Wan havia claramente decidido que necessitaria de suprimentos externos", conta o funcionário. "Ele viu o futuro e percebeu que a China não seria capaz de atender a todas as suas necessidades de carne suína. E isso foi depois que o escândalo do clenbuterol irrompeu, o que, tenho certeza, acelerou os seus planos."

Agora, o antigo operário parece ter conseguido garantir toda a carne suína de que seu país possa precisar.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página