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Rodolfo Landim

Maré vazante em tempo de lua nova

Apesar de mais do que defensáveis, os protestos não poderiam ter chegado em hora mais inconveniente

Durante vários anos, mesmo enfrentando alguns percalços, vivemos no Brasil momentos em que a conjuntura nos esteve bastante favorável.

Tínhamos conseguido estabilizar a nossa moeda, a economia mundial crescia a taxas elevadas e o preço das commodities, mola mestra das exportações brasileiras, subiu significativamente.

O país atingiu praticamente o pleno emprego, e, mesmo após a crise no fim de 2008, em grande parte por sermos um mercado emergente, termos equilibrado as nossas contas e oferecermos juros convidativos, continuamos a ser uma opção atrativa ao capital externo.

Mas o mundo é dinâmico e a gigante economia norte-americana começou lentamente a se recuperar.

Paralelamente, os indicadores brasileiros apresentando resultados continuamente inferiores aos esperados e os problemas estruturais existentes e cada vez mais evidentes começaram a criar dúvidas quanto à viabilidade de atingir taxas elevadas de desenvolvimento no país de forma duradoura.

A piora das expectativas, associada à redução dos juros, provocou a saída de um grande volume de recursos do país, causando uma desvalorização do real em relação ao dólar em nível superior ao da grande maioria das demais moedas e colocando pressão nos indicadores inflacionários.

Como se não fosse bastante, o país enveredou por uma sequência de protestos com a mobilização de um significativo contingente de pessoas e repercussão internacional.

Inicialmente focados no aumento das tarifas do transporte público, os movimentos foram crescendo em escala e espectro de reivindicações. As seguintes tiveram como foco os gastos com a construção de estádios para a Copa do Mundo.

É até compreensível que, em um país com tantas necessidades emergenciais em sua infraestrutura, destinar recursos públicos para estádios de futebol, principalmente em cidades como Manaus, Cuiabá e Brasília, todas sem nem sequer ter times com torcida e fluxo de torcedores para justificar esses investimentos, é mesmo algo questionável. Corre-se o risco de os estádios virarem grandes elefantes brancos após a Copa, algo semelhante ao ocorrido com vários deles na África do Sul.

Isso sem falar dos estouros orçamentários cujas causas são pouco transparentes e que elevaram significativamente o ônus ao contribuinte.

Os movimentos que se seguiram não podem ser atribuídos a nenhuma causa específica. As pessoas que de alguma forma se sentiam ultrajadas e queriam expressar seu descontentamento ou reivindicar alguma coisa sobre qualquer tema viram nesses movimentos uma oportunidade.

E, apesar de a quase totalidade agir de forma ordeira e pacífica, em situações como essas, onde não existe uma liderança definida, sempre acaba sobrando espaço para os baderneiros dispostos a destruir e agredir. E são essas imagens de desequilíbrio e aparente instabilidade política e institucional que acabam sendo repassadas e absorvidas pelas pessoas, notadamente as que vivem fora do Brasil.

Apesar de mais do que defensáveis, já que o direito de se expressar livremente é um dos princípios básicos da democracia, os protestos não poderiam ter chegado em hora mais inconveniente.

O mundo, que já não nos via com o mesmo glamour que tínhamos na década passada até em razão das mudanças no cenário mundial, observa agora as imagens aqui geradas com maior preocupação e descrença.

A impressão que fica é a de que estamos de fato saindo de um ciclo no qual a conjuntura sob o ponto de vista externo nos foi bastante favorável e o esforço para continuarmos a desenvolver o país terá que ser ainda maior daqui para a frente.

Contudo, fica a constatação de que boa parte do dever de casa foi feita, permitindo ao país dispor de reservas cambiais confortáveis, capazes de assegurar a estabilidade interna por muito tempo.

Mas fica também claro que, sem dispormos de uma força de trabalho com nível educacional eleva- do e infraestrutura compatível com o crescimento que precisamos ter, estaremos sempre mais sujeitos aos ciclos de humor do mercado mundial.


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