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Turbulência pega Brasil em situação mais frágil

Insatisfação social soma incerteza a crescimento econômico já hesitante

Para analistas, manifestações nas ruas podem tirar disposição de governo de fazer ajustes contra inflação

ÉRICA FRAGA MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO

A combinação de turbulência externa à onda de manifestações no Brasil aumenta a incerteza sobre o desempenho da economia do país.

O Brasil chega mais vulnerável a este momento de perturbação no exterior, quase cinco anos após o estouro da crise na economia americana.

A inflação está mais alta, a situação fiscal mais frouxa, e as contas externas mais deficitárias. Isso deixa o país mais suscetível ao sobe e desce global, apesar das reservas internacionais elevadas.

Soma-se o acúmulo de insatisfações sociais postas à mesa da presidente Dilma Rousseff, evidenciadas pelos protestos nas ruas. Os dois temas ditaram o humor do investidor na última semana.

"O país já estava com um quadro de crescimento desanimador, inflação deteriorada, deficit em conta-corrente", diz o economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca. "Agora se acrescenta um elemento de incerteza política. Isso inevitavelmente vai pesar na percepção da avaliação externa do Brasil."

DEFESA BAIXA

A reversão externa desta vez é produzida por uma boa notícia. A atividade nos EUA se recupera e, na semana passada, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, acenou que os estímulos à economia podem ser retirados ainda neste ano.

O efeito colateral é que países emergentes como o Brasil estão ficando menos atraentes aos investidores, e isso reduzirá o afluxo de recursos para seus mercados.

Esse quadro é compartilhado por outros emergentes, mas pegou o Brasil menos preparado.

"Se antes conseguíamos reduzir a volatilidade externa com os nossos fundamentos, agora é o contrário, a onda vem mais forte", afirma Zeina Latif, da Gibraltar Consulting.

Desde o primeiro sinal do Fed sobre a retirada de estímulos, há cerca de um mês, o dólar já subiu 10,46% no Brasil e a Bolsa caiu 16,6%.

Apesar da aparente piora da percepção dos investidores sobre o país, não se antecipa, porém, uma crise cambial como as do passado.

SEM DISPOSIÇÃO

O risco hoje, avaliam analistas, é que o governo não tenha disposição política suficiente para levar adiante ajustes considerados necessários para conter a inflação, que está no limite estabelecido pelo próprio governo.

"Antes dos protestos, a presidente Dilma parecia mais confortável com a alta de juros. Agora, embora o controle da inflação ainda seja uma prioridade, é possível que as manifestações façam o governo ficar mais cauteloso de deixar o Banco Central agir na medida necessária para conter a alta de preços", diz Robert Wood, analista da EIU (Economist Intelligence Unit).

Possível aliada do BC na tarefa de esfriar o consumo para inibir reajustes de preços, a moderação dos gastos do governo parece ter ficado mais distante com as demandas sociais em erupção.

"O maior impacto será fiscal. O lado pacoteiro' da presidente ficará superlativo e ela precisará negociar mais com o Congresso, o que significa liberar mais gastos. O fiscal avança para algo crítico", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

A percepção de contágio da economia pela efervescência das ruas ainda é dúvida.

Para o economista e colunista da Folha Alexandre Schwartsman, houve estresse excessivo no mercado financeiro na última semana, e a tendência é o dólar ceder um pouco e se estabilizar ao redor de R$ 2,20.

As novas dificuldades se somam às travas existentes, como a baixa confiança de empresários e uma indústria em crise, e colocam um ponto de interrogação em perspectivas de crescimento mais forte neste e no próximo ano.


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