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Nizan Guanaes

Padrão brasileiro

Sou a favor da Copa do Mundo no Brasil; e sou mais a favor ainda de um debate profundo e fecundo sobre ela

O Brasil é o país da Copa. Jogos de Copa do Mundo aqui são tratados como o 4 de Julho nos Estados Unidos. Reunimos a família e os amigos, fazemos churrasco, empunhamos a bandeira nacional.

O país, por tudo isso, exultou quando no longínquo 2007 a Fifa escolheu o Brasil para sediar a Copa de 2014.

Seis anos depois, o povo está nas ruas exigindo um freio de arrumação no país e questionando, entre tantas coisas, os gastos com a Copa.

Eu sou a favor da Copa do Mundo no Brasil. E sou mais a favor ainda de um debate profundo e fecundo sobre ela. Porque não adianta ter razão, é preciso saber explicar.

Esta é a era da comunicação, que é também a era da informação, do debate, da participação, da mobilização. É por isso que o povo está nas ruas. Precisamos ver nisso uma oportunidade de avançar.

Na China, durante a Olimpíada de Pequim, dissidentes tentaram protestar aproveitando a presença da imprensa internacional e acabaram reprimidos duramente na frente dos jornalistas.

No Brasil, é diferente. Cultivamos nas últimas décadas uma democracia funcional, que permite e protege o direito de se manifestar. É uma democracia jovem, imperfeita, mas forte, que busca nas ruas energia nova e depuração.

Vamos discutir a Copa do Mundo, para fazê-la da melhor forma possível. Vamos discutir o padrão Fifa para termos também educação e hospitais padrão Fifa, como pedem os protestos.

Quem esteve nas novas arenas erguidas para a Copa constatou o salto incrível em relação aos estádios antigos. O país do futebol agora tem palcos dignos para sua arte. Na Copa do Mundo, serão palcos globais. E nós seremos os principais atores, fora e dentro do campo.

Copas e Olimpíadas são portais para a globalização, atalhos para a consciência global. Apesar de nossos problemas, e sem querer minimizá-los, somos um gigante que vive em paz com os vizinhos e pratica a democracia e a economia de mercado como nenhum outro grande emergente.

Precisamos mostrar ao mundo o que é o Brasil: nossa energia, nossa inteligência, nossa criatividade. E, agora, nossos revolucionários.

A democracia e o capitalismo amadurecem juntos e tendem a convergir para um país mais justo e mais dinâmico. O país se transformou com a estabilidade econômica e a emergência de dezenas de milhões de brasileiros ao mercado consumidor. A grande ola de protestos percorrendo o Brasil é fruto dessas transformações e pode transformar o país de novo.

Como publicitário, fico fascinado de ver os slogans que os manifestantes orgulhosamente apresentam nos cartazes, produto do marketing cidadão, de um grande "brain storm" popular.

Minha favorita: "Desculpe o transtorno, estamos mudando o Brasil". Lembra muito outro slogan do também criativo e seminal movimento estudantil de 1968: "As barricadas fecham ruas, mas abrem caminhos".

Amanhã, em Belo Horizonte, Brasil e Uruguai se enfrentam numa copa no Brasil 63 anos depois da derrota mítica da seleção brasileira naquela final do Mundial de 1950, no Maracanã. Espera-se uma grande manifestação, que será tão grande quanto for pacífica.

Daremos uma grande lição ao mundo e a nós mesmos se jogarmos um bolão dentro e fora do estádio. Vamos encher o campo de gols e as ruas de ideias. "Fair play" é fundamental nos dois palcos: o da bola e o da cidadania.

A Copa de 2014 não é o evento inocente e paroquial de 1950. É um evento global que traz uma pauta objetiva e tem o poder de organizar uma nação, com dia, data e hora para as coisas acontecerem. Ela coloca o país na vitrine e na vidraça do mundo.

O futebol foi nosso primeiro desejo de potência global realizado. Ele projetou o Brasil alegre, inovador, vencedor. Nasci em 1958, ano do primeiro Mundial, e cresci marcado por nossas grandes conquistas em campos pelo mundo.

Isso formou minha ambição, nossa ambição, de um dia estarmos à altura do nosso futebol. Não o padrão Fifa, o padrão brasileiro. É isso que buscamos no campo, é isso que buscamos nas ruas.


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