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Análise
Período de menor risco nos mercados pode ter iniciado
NOURIEL ROUBINI ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATEAté o recente surto de turbulência nos mercados financeiros, diversos ativos de risco (entre os quais ações, títulos públicos e commodities) vinham se recuperando desde a metade do ano passado. Mas, embora a aversão a riscos e a volatilidade estivessem em queda e os preços dos ativos estivessem em alta, o crescimento se manteve lento em todo o mundo.
Agora, talvez tenha chegado a hora de encarar as consequências na economia mundial.
A maior parte da zona do euro continua afundada em severa recessão. Mesmo nos EUA, o desempenho econômico permanece medíocre.
E agora os queridinhos da economia global, os emergentes, estão se provando incapazes de acelerar o PIB. De acordo com o FMI, o avanço chinês caiu a 8%, ante 10% em 2010.
Rússia, Brasil e África do Sul estão crescendo em torno de 3% anuais, e outros mercados emergentes também estão se desacelerando.
A distância entre o mercado financeiro e o mercado mais amplo (alta nos preços dos ativos financeiros apesar de desempenho econômico inferior ao esperado) pode ser explicada em parte pela maciça onda de liquidez liberada por bancos centrais --de países desenvolvidos e também de emergentes.
Esse dinheiro barato saiu pelo mundo em busca de rendimentos e alimentou uma reflação temporária dos preços dos ativos. Mas, com ele, havia dois riscos.
Com o tempo, se o crescimento não se recuperasse, ele forçaria uma baixa nos preços dos ativos, para acompanhar os fundamentos econômicos mais fracos.
Segundo, era possível que alguns BCs --especialmente o americano-- decidissem terminar com a brincadeira, abandonando a compra de títulos para estimular a economia e a política de juros zero.
Isso nos conduz à recente turbulência nos mercados financeiros. Os recentes sinais do Fed (BC dos EUA) quanto a um encerramento antecipado das medidas de estímulo, somados a provas mais fortes de desaceleração da China, representam um novo baque para os países emergentes.
Um novo período de incerteza e instabilidade começou, e parece provável que resulte em economias e mercados tumultuados. Podemos estar vendo o início de um ciclo mais amplo de redução de risco pelos mercados.