Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Análise

Empresas mudam balanço para diluir câmbio

Volatilidade leva companhias a lançar só parte do efeito da variação cambial e a compensá-lo com exportações

A decisão beneficia a distribuição de dividendos no curto prazo e reduz as oscilações dos resultados

NATALIA GÓMEZ JULIANA SCHINCARIOL DA REUTERS

A variação cambial e seus efeitos sobre a dívida das companhias brasileiras em moeda estrangeira estão levando empresas a adotar uma nova forma de contabilidade para amenizar a volatilidade de seus resultados.

A Petrobras e a Braskem lançaram mão da "contabilidade de hedge" (alusão aos fundos de proteção contra a volatilidade) nos resultados do segundo trimestre, a Vale pretende fazê-lo em 2014 e a produtora agrícola Vanguarda Agro, já a partir deste mês.

O sistema usa exportações como proteção contra a variação da dívida em moeda estrangeira (a alta de uma compensa a queda da outra).

Assim, o efeito da variação cambial na dívida não é totalmente contabilizada no resultado financeiro, mas no patrimônio líquido da empresa.

Apenas uma parcela da variação é transferida para o resultado da empresa, mas este montante corresponde ao valor que pode ser compensado pelas exportações faturadas naquele período.

"Esse impacto é reconhecido de forma escalonada, conforme for compensado pela receita", diz o professor de finanças do Insper Michael Viriato.

Dessa forma, o câmbio não derruba o lucro em tempos de valorização do dólar, tampouco favorece os resultados em época de depreciação.

Na opinião do professor Fernando Caio Galdi, da Fipecafi, o recurso reflete melhor a realidade econômica destas companhias.

Ele prevê que outras exportadoras sigam o mesmo caminho, já que elas contam com uma proteção natural das exportações.

A contabilidade de hedge pode ser usada no Brasil desde 2009. Até então, apenas instituições financeiras podiam usar este instrumento.

Segundo Galdi, a adoção da metodologia é complexa, pois a empresa deve comprovar que o hedge é seguro.

BRASKEM

A Braskem foi a primeira a colher os frutos dessa estratégia. A petroquímica teve lucro líquido de R$ 99 milhões no primeiro semestre.

Caso tivesse mantido a prática contábil anterior, o resultado registrado seria um prejuízo de R$ 855 milhões.

No segundo trimestre, a petroquímica teve prejuízo de R$ 128 milhões, que poderia ter sido muito maior --de R$ 1,082 bilhão-- não fosse o novo padrão contábil.

Procuradas pela Reuters, Braskem, Petrobras e Vanguarda não comentaram.

Para a analista do Banco do Brasil Investimento Carolina Flesch, com a novidade contábil, o resultado da petroleira ganha maior coerência com o resultado operacional.

"Dessa forma, a Petrobras antecipa também os dividendos sobre as receitas a serem obtidas com as exportações futuras", disse em relatório.

A decisão foi bem recebida pelos analistas de mercado porque beneficia a distribuição de dividendos no curto prazo e reduz as oscilações dos resultados.

"A volatilidade do lucro líquido deve ser significativamente reduzida sob a nova política", disseram em relatório analistas do Bank of America Merrill Lynch.

Especialistas em contabilidade, no entanto, questionam se o investidor pessoa física e até institucionais conseguirão avaliar a mudança.

Outro problema pode ser a quebra de uniformidade das demonstrações financeiras ao longo do tempo.

"Ficará mais difícil comparar com o resultado do ano passado", diz o professor de contabilidade Eduardo Flores, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), que sugere notas explicativas detalhadas.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página