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Cifras & letras

Crítica economia internacional

Insaciável, capital financeiro prepara nova transformação

Em livro, Belluzzo se apoia em Marx para explicar 'mutações' capitalistas

(GITÂNIO FORTES) DE SÃO PAULO

"O Capital e suas Metamorfoses", de Luiz Gonzaga Belluzzo, professor do Instituto de Economia da Unicamp e fundador da Facamp, desencadeia reflexões.

A principal: a crise iniciada em 2007 e aprofundada com a quebra do Lehman Brothers, em 2008, pode indicar uma tremenda transformação da economia mundial.

Com o apoio de clássicos da filosofia e da economia --Marx em primeiro plano, seguido de Keynes e pensadores de várias escolas--, Belluzzo mostra como os fluxos de capitais têm avançado sem freio, na lógica de acumulação incessante.

O livro compõe-se de cinco ensaios. O primeiro traz a visão de Marx sobre o caráter despótico do capitalismo. O segundo, a economia política à luz de Marx e Lukács.

O terceiro aborda o domínio das finanças na atividade econômica. O quarto, a crise de 2008. O quinto, o fracasso de uma ordem internacional desenvolvimentista e a busca do capital em obter ainda mais autonomia.

A baixa inflação e a elasticidade do sistema financeiro acentuaram a oferta de crédito que criou desequilíbrios em várias instâncias --nas famílias consumistas sem tanta renda, nas empresas expansionistas e nos países ávidos de mais poder.

A busca de reequilíbrio via austeridade depois da farra trouxe a armadilha: na tentativa de experimentar a virtude de conter os excessos, desenvolveu-se o efeito perverso da retração da economia.

A autonomização do dinheiro está dada em Marx. O poder do dinheiro de ser trocado por qualquer outra mercadoria abre espaço para comprar sem vender, fundamento do sistema de crédito.

Marx identifica a possibilidade de crise quando "a classe capitalista, ao buscar a preservação da riqueza existente, recusar a aventura da valorização, ou seja, buscar refúgio na simples posse de dinheiro", seca a torneira do crédito.

METAMORFOSES

Prova recente disso foi o movimento de manada que turbinou a demanda por títulos do Tesouro norte-americano e pelos negócios lastreados em ouro depois do pior momento da crise do fim da década passada.

Esses, por sinal, são dois exemplos de formas de "apresentação do dinheiro", sempre concentrado em grandes instituições bancárias.

Belluzzo revisita texto que escreveu no início da década de 1980 com a economista Maria da Conceição Tavares, em que tratam do conceito de capital financeiro em Marx.

Nessa retomada, Belluzzo aponta as corporações norte-americanas como um "embrião nacional" de um modelo de grande capital que se desdobrou a outros países, sobretudo na onda de internacionalização do século 20.

Os bancos passaram a exercer um duplo papel --são donos de grandes lotes de ações e comerciantes de dinheiro, descontando títulos e adiantando recursos para essas mesmas empresas.

No fim do século 19, essas corporações se ramificaram por todas as atividades estratégicas do capitalismo: as finanças, as minas, as manufaturas, os transportes.

Eis uma das metamorfoses, tema do livro: o capital assume caráter cada vez mais universal. Especulação e contabilidade criativa, antes ocasionais, tornam-se perenes.

A leitura do livro remete às recentes manifestações de rua. O "Occupy" dos EUA, os indignados da Europa e os "sem partido" do Brasil mostraram insatisfação com a base política que sustenta o capitalismo contemporâneo.

Essa reação a um acordo costurado entre grandes empresas, instituições financeiras gigantescas e governos mastodônticos resultará em quê? Pois bem, a história do capital e suas metamorfoses está em pleno curso.

O CAPITAL E SUAS METAMORFOSES
AUTOR Luiz Gonzaga Belluzzo
EDITORA Unesp
QUANTO R$ 32 (192 págs.)
AVALIAÇÃO Ótimo


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