Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

'Nova classe média depende menos do Estado'

Economista do Banco Mundial diz que governo precisa gastar melhor e defende avaliações do impacto dos aportes

Financiamento de concessão pública com juros baixos não acaba com incerteza regulatória, diz Canuto

RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON

Conselheiro sênior para as economias dos Brics do Banco Mundial, o brasileiro Otaviano Canuto, 57, diz que, na hora de promover concessões de infraestrutura pública, "garantir financiamento a custo baixo, com juros subsidiados, não acaba com os riscos".

Segundo ele, o mundo está convergindo para mais parcerias equilibradas. "Nem o desmantelamento da capacidade de o governo planejar nem achar que pode-se implementar e executar tudo sozinho", afirmou na sede do banco, em Washington.

Ele disse que há uma "agenda da nova classe média quicando" e que não foi abraçada pelos partidos políticos. "Precisamos de mecanismos que meçam a eficiência do gasto público e que se pergunte quem são os maiores beneficiários do gasto".

Riscos das concessões

A concessão de aeroportos e estradas, assim como a lei dos portos, foi pedagógica. Aos trancos e barrancos, descobrimos quando se exagerou na regulamentação.

Há uma percepção insuficiente da estrutura de riscos que o setor privado enxerga.

Garantir financiamento a custo baixo, com juros subsidiados, não acaba com riscos, como a incerteza regulatória. Não entendem a lógica de cálculo do outro lado. O peso das incertezas é ainda maior.

Classe média insatisfeita

Há uma agenda nova quicando que a nova classe média exige e que ninguém abraçou.

Venho de família de classe média baixa de Sergipe, que veio da pobreza. A mobilidade social dependia do Estado. A nova classe média é menos dependente do Estado e até pode subestimar seu papel.

Ela está puta com a carga tributária, com a eficiência do governo, que tenha de pagar uma fortuna para o contador ou o cartório, que leve um tempão para abrir e pagar impostos de seu pequeno negócio.

Poupatempo

Pense na simplicidade de um Poupatempo. Meu pai gastava uma grana enorme com despachante. Imagine o ganho de produtividade enorme que é não ter que depender de despachante. Ficar somente criticando o adversário reforça a ideia de que político é tudo farinha do mesmo saco.

Sem helicóptero

Só uma parcela da classe média consegue substituir serviços públicos por privados. E tanto a segurança quanto o transporte não podem ser atendidos sem o serviço público, a classe média não vai voar de helicóptero.

A nova classe média quer melhor gestão, melhor governança e menos corrupção. Não adianta mais comprar um carro novo e ter uma vida desgraçada no trânsito.

Gastar melhor

A demanda dos protestos de junho foi concreta, não contra um partido, mas, sim, contra todos os níveis de governo.

Não é gastar mais, visto que a carga tributária já é pesada, mas gastar melhor. Não dá para tributar mais nem fragilizar as contas públicas.

Precisamos já de um mecanismo de avaliação de resultados no impacto do gasto público. Qual impacto que temos se alocarmos "x" recursos em determinado atendimento médico ou em um teste educativo. Para isso temos especialistas. O Banco Mundial trabalha com indicadores de resultados.

Mapa do privilégio

Também precisamos de um mapa de quem se beneficia de gasto público. Não há clareza de quem ganha com privilégios. Só assim podemos cobrar e fazer opções.

O subsídio à gasolina, por exemplo. Toda vez que é grande a diferença entre o preço internacional e o que se paga domesticamente, isso afeta as contas públicas. Todos pagamos pela gasolina subsidiada. Quem se beneficia? São os mais pobres ou os que têm carro? Não se poderia pegar o valor gasto no subsídio e investir em transporte público?

Trem-bala

Não sou especialista em trem-bala, mas a mesma questão deve ser feita: quem vai se beneficiar mais com a conectividade melhor entre São Paulo e Rio? Que público vai pagar essas passagens?

Ilusões

O Estado precisa ter capacidade de planejamento, mas também não dá para ele fazer tudo. O mundo caminha para parcerias público-privadas. Precisamos equilíbrio entre os papéis do Estado e do setor privado. Temos deficiência na capacidade pública. Não é culpa de um ou dois ou três governos, são décadas.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página