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Benjamin Steinbruch

Fla x Flu

Não faz sentido incorporar torcida a favor ou contra crescimento ou inflação em prognósticos econômicos

Um assunto predominante nos comentários econômicos dos últimos dias foi o resultado do PIB no segundo trimestre. As previsões mais favoráveis falavam em um crescimento de 0,9% no trimestre em relação ao anterior --algumas estimativas superotimistas chegavam a 1%. Mas o número que veio, anunciado oficialmente pelo IBGE, foi de uma expansão de 1,5%.

Não é um resultado trivial. Se projetarmos essa taxa de crescimento por quatro trimestres consecutivos, exercício muito comum nos Estados Unidos, chegaremos a 6,14% ao ano. Esse seria, portanto, o ritmo de expansão anual da economia brasileira no trimestre passado.

Foi uma boa surpresa, sem dúvida, mas será que esse ritmo deve se manter? Vivemos o terceiro trimestre, que mostra indicadores muito ruins para a indústria, uma queda de produção de 2% em julho, decorrente em grande parte da atividade fraca no setor de veículos. Há um comportamento irregular na indústria, com alternância de meses bons e ruins. Em agosto, o cenário já parece ter melhorado --as montadoras de veículos produziram 12% mais que há um ano antes.

Passados oito meses do ano, o PIB brasileiro de 2013 já está praticamente dado. Deve ficar em torno de 2,35%, segundo a previsão da pesquisa Focus, do Banco Central, feita na sexta-feira passada, dia 6, e divulgada ontem.

Isso é o que estão prevendo agora, em média, os especialistas consultados semanalmente pelo Banco Central. Mas o que eles previam um ano atrás para o ano fechado de 2013? Será que acertaram?

Por curiosidade, fui checar esses dados. Os videntes do mercado fariam um bom exercício de humildade se olhassem aquelas previsões de um ano atrás. Para o PIB de 2013, a projeção feita há um ano, exatamente em 6/9/12, era de 4%, número parecido com as estimativas oficiais da época. Ou seja, a projeção era 70% superior àquela que hoje parece mais próxima de se realizar.

A taxa de câmbio comercial que se previa um ano atrás para o fim de 2013 era de R$ 2,00 por dólar. Hoje, as projeções mudaram para R$ 2,36, com um desvio de 18%. Para a Selic, previam-se 8,25%, e, agora, 9,75%. Na balança comercial, o desvio é enorme. O número com o qual trabalhava o mercado em setembro do ano passado era de um superavit de US$ 14,57 bilhões em 2013. Hoje, estima-se superavit de só US$ 2,5 bilhões e ainda há muitas dúvidas sobre esse resultado, que já é 83% inferior àquele que se imaginava em setembro do ano passado. Há um razoável índice de acerto para o IPCA, agora projetado para 5,82%, apenas 0,28 ponto acima do previsto um ano atrás.

Não há nesses comentários intuito de desacreditar a pesquisa semanal do BC, que é uma iniciativa elogiável para apurar as opiniões do mercado, embora talvez pudesse ser mais abrangente na consulta aos setores produtivos.

Da boa surpresa do PIB do segundo trimestre e da observação das previsões de um ano atrás, tira-se pelo menos uma lição, a de que ninguém pode se considerar dono da bola de cristal, especialmente num cenário influenciado por grandes e imprevisíveis interferências da crise global.

Iniciativas como a do Focus são excelentes para balizar expectativas, mas o empresário precisa trabalhar também com os próprios sentimentos e cercar-se de profissionais que conhecem a fundo o mercado em que atuam.

Nada mais equivocado do que basear-se em análise generalistas, muitas vezes com viés político-ideológico. O país precisa de menos radicalismo e mais moderação.

Não faz sentido, por exemplo, incorporar torcida a favor ou contra crescimento ou inflação em prognósticos econômicos. Como não faz sentido ser contra o Mais Médicos ou o Minha Casa, Minha Vida só porque são programas de governo, deixando de considerar as enormes carências do país nas áreas de habitação e saúde. E como também não faz sentido repudiar reformas só porque algumas delas foram bandeira da oposição quando estava no poder.

As eleições vêm aí, as disputas são legítimas, mas não se pode deixar que o clima de Fla-Flu contamine o país. Afinal, ganhe quem ganhar, a obrigação de todos os brasileiros será batalhar pelo mesmo objetivo: transformar o Brasil em um país rico, justo e que possa oferecer oportunidades iguais para todos os seus cidadãos.

bvictoria@psi.com.br


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