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China e Japão pedem que EUA evitem calote
Impasse no Congresso americano sobre elevar o limite da dívida federal derruba Bolsas e assusta governos credores
Investidores e políticos temem impacto global da interrupção dos pagamentos; prazo para resolver crise é dia 17
O risco de calote dos EUA ganhou importância global ontem, com os governos da China e do Japão alertando Washington e os mercados caindo perante a possibilidade de a maior economia do mundo, proibida de gastar, deixar de pagar suas dívidas.
O governo americano está mergulhado em um duplo impasse, que envolve, ao mesmo tempo, a aprovação do Orçamento e o aumento do limite para o governo americano contrair dívidas, ambos travados no Congresso.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, caiu 0,82% (também afetado pelas quedas da OGX e da Vale).
Em Nova York, o índice Dow Jones, que compila as ações de maior peso, perdeu 0,90%, e o mais amplo S&P, 0,85%. As Bolsas recuaram também na maior parte da Europa e da Ásia.
"O impasse do Orçamento e do teto da dívida do governo dos EUA mais uma vez está pesando sobre os mercados globais", afirmou Carlos Müller, analista-chefe da Geral Investimentos.
O efeito não é temido só por investidores. Após alerta do Fundo Monetário Internacional na semana passada, ontem os governos da China e do Japão chamarem a atenção para o risco de contágio global que um eventual calote americano poderá trazer.
Juntos, os dois países detêm 43% dos títulos da dívida americana em mãos estrangeiras, segundo dados de julho do Tesouro americano. O terceiro maior credor externo dos EUA é o Brasil (4,6%).
"Os EUA estão cientes das preocupações da China com o impasse e da solicitação para que garantam a segurança dos investimentos chineses", disse o vice-ministro das Finanças, Zhu Guangyao, em entrevista à imprensa.
"Sendo a maior economia do mundo e emissora da principal moeda de reserva [global], é importante que os EUA deem passos críveis para lidar com seu teto de endividamento rapidamente."
O jornal "Financial Times" relata que a preocupação tem eco no Japão, onde o Ministério das Finanças teme o impacto no mercado de câmbio, no qual um calote dos EUA levaria a nova queda do dólar e alta das demais moedas.
No Brasil, ainda em ajuste após a forte alta da moeda americana em agosto, o câmbio mantém-se volátil à espera do desenlace. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, avançou ontem 0,03%, cotado em R$ 2,204 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, caiu 0,09%, a R$ 2,209.
DINHEIRO ATÉ DIA 17
O Tesouro dos EUA afirma que o governo tem dinheiro para gastar só até o próximo dia 17. Depois disso, caso o Congresso não autorize novos empréstimos, pagamentos como salários de servidores públicos e juros da dívida poderão ser suspensos.
A oposição republicana resiste a permitir a contração de mais dívidas. O país atingira seu limite de endividamento, US$ 16,7 trilhões (US$ 0,7 trilhão mais que seu PIB), em maio, e desde então vinha usando medidas emergenciais para se financiar.
Mas essas medidas se esgotaram, e o Congresso, dividido, falhou em aprovar o Orçamento do ano de fiscal de 2014, iniciado terça passada.
Por causa disso, o governo federal suspendeu suas atividades não essenciais e entrou em paralisação parcial --o que afeta a confiança dos investidores e, consequentemente, os volumes negociados no mercado financeiro.
Assessores de Barack Obama indicaram ontem que o presidente aceitaria uma solução temporária para evitar o calote, sujeita a negociação.