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"Incerteza em relação ao pouso da China diminuiu"
DE SÃO PAULOLakshmi Mittal, maior produtor de aço do mundo, admite que o fim da crise na siderurgia vai "atrasar" em relação à recuperação da economia global. A seguir, a continuação da entrevista.
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Folha - Sem a China, a demanda global de aço vai crescer apenas 0,7% e está perto do nível pré-crise. Por que a siderurgia está demorando tanto para se recuperar?
Lakshmi Mittal - Essa questão é mais macroeconômica do que relacionada apenas com a indústria do aço. A recessão foi muito profunda e teve consequências nas economias em desenvolvimento e desenvolvidas.
A maior parte da demanda por aço está ligada ao investimento. A pressão nos orçamentos públicos e o elevado nível de risco limitou a disposição de governos e empresas para investir.
Logo, a retomada da demanda por aço tende a atrasar em relação à recuperação global, mas já estamos vendo os primeiros sinais de uma maior disposição das empresas em investir, o que está evidente pelo aumento das encomendas de máquinas.
A China é hoje o maior consumidor de aço. O senhor acredita que o "pouso forçado" da economia chinesa foi evitado?
O notável crescimento da economia chinesa tem sido um conhecido fato da vida por muitos anos. A maior parte da produção de aço chinesa é, de longe, para o consumo interno.
O impacto externo da siderurgia chinesa é mais sentido no efeito que sua demanda provoca no preço das matérias-primas.
O risco associado a um pouso forçado da China não desapareceu, mas a incerteza diminuiu.
A demanda chinesa vai continuar a crescer, mas num ritmo mais lento. Neste ano, a China adicionou mais de 40 milhões de toneladas à demanda global.
Existe estímulo suficiente nos setores imobiliário, de infraestrutura e automotivo para que a demanda continue crescendo, especialmente no oeste do país.
No entanto, a demanda chinesa por aço vai chegar ao pico em 2020. O crescimento do PIB da China deve e vai desacelerar no médio prazo.
O que vai ocorrer com a siderurgia quando a China transformar o consumo no novo vetor de crescimento, reduzindo os investimentos?
A China vai reequilibrar sua economia em direção ao consumo doméstico na próxima década. Mas os vetores de urbanização e desenvolvimento de infraestrutura vão continuar positivos.
Se a China quiser atingir suas metas de crescimento, podemos esperar que a demanda por aço continue crescendo por algum tempo.
Mas o consumo de aço não pode crescer para sempre.
O que vai acontecer com a siderurgia chinesa depois que o consumo doméstico atingir seu pico vai depender de muitos fatores, que vão desde a consolidação da indústria local até sua posição na competição global.
No entanto, dado o seu tamanho em relação a demanda global por aço, uma solução doméstica terá que ser encontrada. (RL)