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Entrevista - Lakshmi Mittal
Crescimento do Brasil está muito focado no consumo
Para magnata do aço, investimentos devem se recuperar, mas nem tudo vai sair do papel
O indiano Lakshmi Mittal, maior produtor de aço do mundo, não compartilha do pessimismo internacional com o Brasil, mas critica o desequilíbrio da economia.
"O modelo de crescimento do Brasil está muito focado no estímulo ao consumo. A indústria ainda está abaixo do pico da crise, enquanto as vendas no varejo estão 40% acima", afirmou à Folha.
Ele considera que os investimentos devem se recuperar, embora duvide que todas as promessas do governo nessa área serão cumpridas.
O empresário, que preside a ArcelorMittal, retomou recentemente parte de um plano de investimentos no Brasil, que estava congelado desde 2008. "Confiamos na economia no longo prazo."
Casado e pai de dois filhos, Mittal, 63 anos, é o segundo homem mais rico da Índia e 41º do mundo.
Ele esteve em São Paulo na segunda-feira passada para o Congresso Mundial do Aço, mas só concordou em responder a perguntas por e-mail.
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Folha - Brasil e Índia não estão crescendo como esperado. O senhor está preocupado com os mercados emergentes?
Lakshmi Mittal - Está ocorrendo uma redução no crescimento da Índia e do Brasil desde 2011. Essas economias vão se recuperar em algum momento, até com a ajuda da retomada nos mercados maduros, mas reformas estruturais são necessárias para elevar o crescimento no médio prazo.
Esses países falharam em realizar as reformas estruturais necessárias para um crescimento sustentável?
Claramente esses dois grandes países têm muito o que fazer a esse respeito.
Há um crescente pessimismo nos mercados internacionais com o Brasil. O senhor compartilha dessa visão?
Continuamos confiantes no futuro da economia brasileira. No entanto, é verdade que o crescimento recente foi prejudicado por altas taxas de juros, investimento insuficiente, pesada burocracia, um sistema tributário complicado e um alto custo de fazer negócios.
A forte expansão do crédito e o aumento dos salários alimentaram um crescimento na demanda dos consumidores nos últimos nove anos.
A produção industrial não cresceu em paralelo com o consumo doméstico, provocando forte aumento das importações de produtos manufaturados.
O modelo de crescimento do Brasil é muito focado no estímulo ao consumo. A produção industrial ainda está abaixo do pico da crise, enquanto as vendas no varejo estão 40% acima.
A ArcelorMittal anunciou em junho que vai descongelar parte de seus investimentos no Brasil. Por quê?
Temos confiança na economia no longo prazo. O Brasil tem enorme vantagem competitiva por conta de seus recursos naturais e do dinamismo de sua população.
A produção industrial brasileira praticamente não deve crescer em 2013, mas vai lentamente ser ajudada por um câmbio mais competitivo.
Há sinais de melhora na construção na segunda metade do ano, à medida em que a economia gradualmente se reequilibra, reduzindo a importância do consumo.
O investimento deve se recuperar e a produção de bens de capital já está crescendo.
Duvidamos que os investimentos em energia e infraestrutura seguirão em frente como planejado.
Mas a escala dos investimentos propostos pelo governo e os protestos recentes vão renovar o foco em infraestrutura de transporte e energia nos próximos anos, dando suporte à demanda por aço.
Antes do impasse fiscal, que paralisou parcialmente o governo americano, os Estados Unidos estavam começando a se recuperar. Como o impasse fiscal pode afetar a retomada da economia dos EUA?
Em termos gerais, estamos otimistas em relação aos EUA. Acredito que ainda é muito cedo para conhecer os efeitos do impasse fiscal.
É uma questão política que pode ser resolvida rapidamente. Se não for, obviamente, tem potencial para ter efeitos negativos na economia. Vamos ter que esperar.
O consumo de aço europeu ainda está caindo. O senhor acredita que a Europa atingiu o fundo do poço?
Se não chegou ao fundo, está próximo. Acredito que a demanda europeia por aço não vai mais diminuir. O mais provável é que cresça em 2014.