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Análise

Dívida dos EUA exacerba dilemas para o Brasil

Choque acenderia sinal de alerta no Planalto, mas afrouxamento monetário pode manter atraso nas reformas

Sem a economia global como alavanca, dificilmente o Brasil retomará o ritmo de crescimento

JOÃO AUGUSTO DE CASTRO NEVES ESPECIAL PARA A FOLHA

Para além da observação óbvia de que um calote dos EUA seria catastrófico para a economia mundial, é difícil antecipar detalhadamente como o desenrolar de um default da superpotência afetaria os emergentes e o Brasil.

Pode-se afirmar com certo grau de certeza que a principal vítima seria o crescimento econômico mundial.

Os efeitos de um calote sobre os mercados de crédito, câmbio e as taxas de juros nos EUA muito provavelmente levariam a uma crise financeira que acabaria por recolocar a economia norte-americana em ponto morto. Com as economias da Europa e da China desapontando, o cenário é de ventos globais menos favoráveis por algum tempo.

Para um país que já enfrenta um momento econômico complicado, um calote dos EUA muito provavelmente exacerbaria alguns problemas. Esse é o caso do Brasil.

Depois de quase uma década de crescimento relativamente mais acelerado, a economia brasileira vem patinando nos últimos dois anos.

Sem a economia global funcionando como alavanca, dificilmente o Brasil retomará o ritmo de crescimento que marcou principalmente o segundo mandato do presidente Lula (2007-2010).

Mas uma parte importante do problema reside em Brasília. Os anos de abundância econômica, caracterizados principalmente pelo superciclo de commodities e taxas de crescimento mais altas durante a década passada, acabaram por gerar uma certa complacência do governo em relação a reformas econômicas estruturais.

Liquidez global em excesso e popularidade presidencial nas alturas não só reduziram custos (políticos e econômicos) para ajustes mas também elevaram incentivos para intervenções do Estado em setores da economia.

Esses custos já aumentaram depois dos protestos de junho e das incertezas acerca dos rumos da política monetária dos EUA.

Mas, embora exista em setores do governo uma percepção incipiente de que é preciso corrigir o rumo de algumas políticas, o ritmo do processo decisório é demasiadamente lento.

No Brasil, o governo tende a só responder com políticas mais construtivas quando as restrições políticas e econômicas ficam insuportáveis. Ou seja, vale a lógica do "tem de piorar para melhorar".

O problema com esse raciocínio é que um sinal alentador, por menor que seja, tende a reduzir o senso de urgência do governo em implementar mudanças positivas.

Um choque externo provocado por um default dos EUA certamente acenderia um sinal de alerta no Planalto.

Mas o risco de uma leitura enviesada da crise pelo governo continuará se, entre vários efeitos-dominó, a crise levar o banco central dos EUA a adiar o fim do afrouxamento monetário, reduzindo a pressão sobre o real e a inflação e dando mais fôlego aos improvisos da política fiscal da equipe econômica.

Afinal, o mundo mudou bastante do governo Lula ao governo Dilma, mas boa parte dos personagens principais na Esplanada continua a mesma.


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