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Entrevista Ha-Joon Chang

Entendimento sobre inflação e expansão ainda é muito pobre

para Economista sul-coreano, o problema é definir quanto o país aguenta de alta de preços

TONI SCIARRETTA DE SÃO PAULO

É possível manter a economia saudável, com crescimento significativo, mesmo com alguma inflação.

A afirmação, que encontra eco em setores importantes do governo Dilma, é do economista sul-coreano Ha-Joon Chang, professor da Universidade de Cambridge e consultor informal do presidente equatoriano, Rafael Correa.

"O problema é definir o quanto o país suporta de inflação sem comprometer o crescimento", disse. No caso do Brasil, afirmou, uma inflação de 6% é perfeitamente compatível com um crescimento de 4% --o mercado prevê inflação de 5,8% e crescimento de 2,5% em 2013.

Uma das vozes mais respeitadas da heterodoxia (corrente cética ao livre mercado), o economista argumenta que a estabilidade monetária vigente desde os anos 80 produziu sucessivas crises no sistema financeiro. "Nosso entendimento do relacionamento entre inflação e crescimento ainda é muito pobre."

Folha - Quando a inflação é uma má política e quando pode ser aceitável?

Ha-Joon Chang - Todos concordam que uma inflação excessiva não é boa, mas há diferentes visões sobre o que é excessivo. Economistas favoráveis ao mercado livre tendem a pensar que qualquer coisa acima de 3% é ruim, mas não há evidência de que inflações maiores, ao redor de 10%, levam a uma perspectiva econômica pior. Alguns economistas dirão que o limite do aceitável é 20% ou até 40%. Há vários países como a Coreia do Sul nos anos 60 e 70 (com inflação de 20%) e o Brasil entre os anos 60 e meados dos 70 (com inflação de 40%), em que uma inflação relativamente alta foi combinada com crescimento muito rápido.

O controle da inflação não trouxe mais previsibilidade?

A inflação pode ter caído comparada aos anos 60 e 70, mas a economia se tornou muito mais instável desde os anos 80. O mundo viu muito mais crises: a crise da dívida do Terceiro Mundo de 1982, a crise bancária do Chile dos anos 80, a crise das poupanças e empréstimos nos EUA nos anos 80, a crise bancária na Escandinávia dos anos 80 e começo dos anos 90, a crise mexicana de 1995, a crise asiática de 1997, a crise russa de 1998, a desvalorização do real em 1999, a crise argentina de 2002 e a crise financeira de 2008 --e estamos nomeando somente as maiores.

Quando a inflação atrapalha?

Nosso entendimento do relacionamento entre inflação e crescimento é ainda muito pobre. Há muitos fatores que afetam esse relacionamento e a importância deles muda constantemente, de acordo com alterações no cenário global e fatores políticos e econômicos internos.

Qual o limite aceitável?

Nos anos 70, o Brasil cresceu 7% com inflação de 20%. Minha leitura é que o Brasil pode crescer hoje mais rápido, digamos 4%, com inflação de 6%, desde que esse crescimento seja mais fundamentado no aumento da capacidade de produção do que na elevação da demanda de curto prazo.

O Brasil está perdendo investimento estrangeiro?

O fluxo de capital estrangeiro muda de forma muito imprevisível no curto prazo. Mas parece altamente provável que o capital que chegou aos países emergentes nos últimos tempos vá sair. No final, isso pode ser uma coisa boa. Esse capital especulativo levou a uma supervalorização da moeda brasileira e de outros emergentes, machucando a competitividade nas exportações.

As autoridades foram eficientes no mundo pós-crise?

Infelizmente, as autoridades e reguladores não aprenderam por inteiro as lições da crise de 2008. Especialmente nos países ricos, cujas políticas passadas causaram a crise, não foi fortalecida a regulação o suficiente, enquanto tentaram impulsionar a economia por meio do relaxamento quantitativo no lugar de mais reformas estruturais. E isso pode criar novas bolhas, que podem levar a uma nova onda de crise.

O quanto ineficientes foram os mercados em 2008?

A crise aconteceu em grande parte porque muitas pessoas acreditaram que os mercados de capitais são perfeitos e não cometem erros. Eles criaram uma superconfiança nos modelos de gestão de risco e na previsão do comportamento dos ativos.

A crise atual terá final feliz?

Há um perigo de vermos uma nova onda de crise resultante de bolhas especulativas desenvolvidas com o excesso de recursos colocados para contornar problemas estruturais que não foram solucionados. A menos que apareça um caminho de recuperação mais sustentável, veremos mais problemas na estrada.


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