Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Análise

Problemas europeus continuam à espreita

Risco do fim da zona do euro diminuiu, mas entraves permanecem e não dá para descartar novas tempestades

Por sob a calma superficial, os problemas fundamentais da zona do euro continuam não resolvidos

NOURIEL ROUBINI ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE

Pouco mais de um ano atrás, a zona do euro parecia estar à beira do colapso, diante do medo crescente de uma saída grega do bloco e dos custos insustentavelmente altos para Itália e Espanha captarem dinheiro no mercado.

Hoje, o risco de que a união monetária se desintegre é substancialmente mais baixo --mas os fatores que o alimenta continuam em larga medida intocados.

Diversos desdobramentos ajudaram a restaurar a calma. Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), prometeu fazer "o que quer que fosse necessário" para salvar o euro. Foi criado o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), com € 500 bilhões ao seu dispor para resgatar bancos e governos.

Algum progresso foi realizado na direção de uma união bancária europeia. E a Alemanha compreendeu que o bloco é tanto um projeto político quanto econômico.

Além disso, a recessão na zona do euro acabou (ainda que a recuperação seja frágil). Algumas reformas estruturais foram implementadas, e o ajuste fiscal avançou consideravelmente.

Mas, por sob a calma superficial, os problemas fundamentais da zona do euro continuam não resolvidos.

Para começar, o potencial de crescimento ainda é baixo demais na maioria dos países periféricos, dada a população envelhecida e o baixo aumento da produtividade, enquanto a alta do PIB vai se manter abaixo de 1% pelos próximos anos, o que implica que o desemprego continuará alto.

Enquanto isso, o nível da dívida privada e pública (interna e externa) continua alto demais, e vai crescer como proporção do PIB.

Ao mesmo tempo, a perda de competitividade só foi parcialmente revertida. A severa recessão na periferia levou a colapso das importações nesses países, mas a redução no custo da unidade da mão de obra não bastou para estimular muito a exportação.

O euro continua forte demais, o que limita severamente a melhora da competitividade necessária a elevar as exportações.

O problema mais amplo, claro, é que o progresso rumo à união bancária, fiscal, econômica e política --t essenciais para a viabilidade da zona do euro em longo prazo-- vem sendo lento demais. A realidade é que não houve progresso algum quanto aos três últimos aspectos, e o progresso rumo à união bancária foi limitado.

A Alemanha resiste aos elementos de risco compartilhado dessa união: o sistema unificado de garantia de depósitos, um fundo comum para liquidar bancos insolventes, e a recapitalização direta dos bancos pelo ESM.

A Alemanha teme que o risco compartilhado se torne risco transferido, e que qualquer forma de união fiscal venha a se tornar uma "união de transferência", com o núcleo rico subsidiando permanentemente a periferia.

Além disso, o BCE não está disposto a adotar políticas criativas que poderiam atenuar a compressão de crédito. Ao contrário do Fed (Fed, o banco central dos EUA), o BCE não está envolvido em operações de relaxamento quantitativo; e sua "orientação futura" de que manterá baixas as taxas de juros não parece muito confiável.

Pelo contrário, as taxas de juros continuam altas demais e o euro forte demais para permitir medidas que permitam que o crescimento do bloco pegue no tranco.

Enquanto isso, a fadiga quanto às medidas de austeridade está crescendo na periferia da zona do euro. O governo grego está sob intensa pressão, ao buscar novos cortes de gastos; e os governos da Espanha e Portugal estão tendo dificuldade até para atingir as metas fiscais mais frouxas estabelecidas pelos credores, e a pressão política está crescendo.

Até o momento, o grande acordo entre o centro e a periferia vem se mantendo: a periferia está mantendo a austeridade e a reforma, e o centro continua paciente e a fornecer financiamento.

Mas o desgaste político pode em breve chegar a um ponto de ruptura, com partidos populistas inimigos da austeridade, na periferia, e partidos populistas inimigos do euro e dos resgates, nos países centrais, possivelmente conquistando maioria nas eleições para o Parlamento Europeu em 2014.

Se isso acontecer, um surto renovado de turbulência financeira enfraqueceria a frágil recuperação da zona do euro. A calma que vem prevalecendo nos mercados financeiros da zona do euro há quase um ano pode se provar apenas um repouso temporário entre tempestades.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página