Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Benjamin Steinbruch

Assim será

Decisões recentes dos BCs norte-americano e do Brasil mostram escolhas distintas dos dois países

Vale a pena relembrar duas notícias que, coincidentemente, saíram nas primeiras páginas dos jornais em 10 de outubro. No Brasil, a manchete quase unânime era sobre a elevação dos juros para 9,5% ao ano, decisão do Banco Central. Nos EUA, grande parte dos jornais trazia a notícia da indicação, pelo presidente Barack Obama, da nova presidente do Fed (banco central americano), a economista Janet Yellen.

As duas notícias mostram escolhas distintas de dois países.

Aqui, infelizmente, a opção é para o lado do conservadorismo e da ortodoxia. Aos poucos o país vai retomando a incômoda posição que ocupou durante muitos anos, de campeão mundial dos juros altos. Com a taxa básica para 9,5% ao ano, o país já tem o maior juro real (descontada a inflação prevista em 12 meses) do mundo, de 3,5%, à frente do Chile, com 3,2%, e da China, com 3%. Em termos nominais, fica em terceiro lugar, atrás da Venezuela, com 15,5%, e da Argentina, com 12%.

Lá nos EUA, a escolha é a inversa, pela ousadia. Aos 67 anos, Yellen tem uma carreira brilhante. Estudou economia na Universidade Brown e fez seu doutorado em Yale, tendo como orientador o Prêmio Nobel James Tobin, cuja obra se baseou nas ideias de John Maynard Keynes, do período da Grande Depressão dos anos 1930. É casada com George Akerlof, outro economista ganhador de Nobel.

Não faltam credenciais, portanto, para a provável presidente do Fed a partir de 2014, cuja indicação ainda precisa ser confirmada pelo Senado americano. O que há de diferente nessa indicação, em matéria de ousadia, é que Yellen bebeu na fonte de Tobin, que estimulava seus alunos de economia a trabalhar não apenas com base em princípios técnicos, mas também para melhorar o bem-estar das pessoas.

Nos EUA, ao contrário do que ocorre no Brasil, o BC tem a dupla missão de garantir a estabilidade de preços e de promover o crescimento econômico e do emprego. Aqui, a prioridade da autoridade monetária diz respeito à inflação.

Não é fácil presidir um banco central, em qualquer país, e usar as políticas disponíveis em favor do crescimento e do emprego. Os mercados financeiros gostam de crescimento, mas antes de tudo adoram dinheiro caro, juros altos. Mesmo nos EUA, Yellen, que ocupa há três anos o cargo de vice-presidente do Fed, já vem sendo contestada por políticos republicanos conservadores, sob o argumento de que ela seria uma economista leniente com a inflação.

Tendo em vista a herança intelectual da economista, porém, é muito provável que ela vai levar a sério sua dupla missão. Yellen é indicada para o Fed em um momento delicado para a economia americana e também para a mundial.

Primeiro porque o presidente Barack Obama, sem maioria na Câmara, sofre grande pressão dos republicanos para cortar gastos sociais e adotar uma política fiscal rigorosa, que poderia reverter a tendência de recuperação da economia.

Além disso, com o início da recuperação da atividade econômica e o aumento do emprego nos EUA, está chegando a hora de o Fed começar a retirar os estímulos monetários que oferece com a injeção de US$ 85 bilhões por mês na economia, política adotada pelo atual presidente do Fed, Ben Bernanke.

Movimentos bruscos nessa retirada seriam certamente um desastre para toda a economia mundial. A simples expectativa de que os estímulos começariam a ser retirados em outubro, afinal negada pelo Fed, já provocou grandes confusões nos mercados financeiros.

É muito confortável, portanto, saber que essa economista, ciosa de sua dupla missão, terá influência decisiva para a fixação do ritmo de retirada dos estímulos nos próximos meses. Espera-se que o processo se dê sem abortar a recuperação econômica em gestação.

No Brasil, seguimos a rota inversa. A economia está desaquecida, deve crescer 2,5% neste e no próximo ano, a inflação anual caiu abaixo de 6% pela primeira vez em 2013, mas os juros continuarão em alta.

Estavam em 7,5% em outubro do ano passado, começaram a ser elevados regularmente a partir de abril e agora chegaram a 9,5% ao ano. A expectativa é a de que voltem a dois dígitos no fim do ano. Assim espera o mercado e assim deverá ser.

bvictoria@psi.com.br


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página