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CRÍTICA História

Obra traz história concisa da mudança agrária no mundo

Sociólogo estuda relações sociais no campo após o início do capitalismo

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

A economia alimentar global tem regulamentação privada, mas com forte intervenção estatal por meio de subsídios agrícolas nos Estados Unidos e na União Europeia. As grandes empresas se tornaram os principais agentes para organizar as condições de produção e consumo que lhes permitam planejar investimentos, compra de material agrícola e comercialização.

Fusões e aquisições levaram à concentração maior de companhias. Além disso, medidas de austeridade retiram subsídios a pequenos lavradores. O avanço dos transgênicos e de monoculturas leva à perda de biodiversidade.

Assim, o sociólogo Henry Bernstein descreve o atual estado da agropecuária, em que cresce o controle empresarial antes e depois da produção.

Como chegamos a esse quadro? Por que muitos ainda passam fome, apesar de a produção ser mais do que suficiente para alimentar toda a população do mundo?

As pistas são colocadas de forma panorâmica, didática e muito concisa em "Dinâmicas de Classe da Mudança Agrária". No livro, o professor do departamento de Estudos do Desenvolvimento da Universidade de Londres esmiúça as classes sociais e as enormes diferenças no setor.

O autor faz quatro perguntas para identificar o quadro rural no passar do tempo: Quem produz o quê?, Quem faz o quê?, Quem fica com o quê? O que fazem com isso?.

Seu estudo começa nos primórdios do capitalismo, na acumulação primitiva do capital --quando terras viraram mercadorias, foram cercadas, e parte da população foi expulsa do campo.

Preocupado com nuances e evitando generalizações, o sociólogo traça as diferenças entre o capitalismo agrário do norte e do oeste dos EUA (pequenos proprietários) e a "via prussiana", centrada numa classe autocrática de militares e proprietários rurais. Trata da colonização nas Américas e no Oriente, da escravidão e da migração europeia.

Na Índia e na China, Bernstein mostra como os períodos coloniais provocaram aumento na "ruralização" e avanço da pobreza.

Adiante, descreve o protagonismo da produção das pradarias do Meio-Oeste dos EUA para o avanço da monocultura, do processamento industrial da carne, do transporte das safras e para a criação dos mercados futuros.

Isso explica o até hoje importante papel que Chicago representa para o agronegócio mundial. "Os lavradores europeus, incapazes de competir com os grãos mais baratos [dos EUA], reagiram dedicando-se mais intensivamente a produtos de valor mais alto, como laticínios, frutas e hortaliças, ou abandonando a lavoura", escreve o autor.

INTERNACIONALIZAÇÃO

Na análise do sociólogo, o desenho de produção calcado nos grandes exportadores mundiais de grãos e carne constitui o Primeiro Regime Alimentar Internacional. Vigorou de 1870 a 1914.

Após as guerras mundiais, surgiu um Segundo Regime Alimentar Internacional, com grande transformação técnica no campo pela "quimicalização" (adubos, pesticidas), pela mecanização, pelo uso de sementes selecionadas etc.

Bernstein faz ressalvas a essa revolução verde. Na Índia, por exemplo, ele diz que "parte da terra dedicada ao cultivo dos grãos mais caros e de melhor qualidade foi tirada de grãos mais grosseiros', como o painço, e das leguminosas, fonte importantíssima de proteína na dieta dos pobres".

Hoje estamos no Terceiro Regime Alimentar Internacional, com um modelo empresarial de comércio multilateral, de acordo com o autor.

Preocupado com a diversidade, ele lembra que o aprofundamento da mercantilização e da especialização da produção agrícola fez surgir diversos tipos de lavradores: os "familiares", os médios e grandes capitalistas, e grandes empresas agrícolas.

A agricultura capitalista cria formas de incorporar pequenos produtores à sua estrutura de mercado, "desde que isso seja benéfico para o capital", argumenta.

O livro passa rápido pelas reformas agrárias e pouco esclarece sobre os movimentos de camponeses, apesar do foco nas classes sociais. O Brasil é pouco lembrado.

O mérito da obra está na sua abrangência, no seu afiado método de análise e nas perguntas que levanta. Com muitas tabelas e um bom glossário, abre uma ampla reflexão da questão agrária.

"DINÂMICAS DE CLASSE DA MUDANÇA AGRÁRIA"
AUTOR Henry Bernstein
EDITORA Unesp
QUANTO R$ 34 (174 págs.)
TRADUÇÃO Beatriz Medina
AVALIAÇÃO Bom


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