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Relatório mostrava prejuízo em campos

Montante gasto para extrair petróleo seria maior que receitas, segundo avaliação de empresa independente

Entre julho de 2012 e julho de 2013, OGX fez 2 comunicados revisando reservas, mas acima das previsões internas

DE SÃO PAULO DE BRASÍLIA

Em julho de 2012, a principal sala de reuniões da OGX, no 19º andar do edifício Serrador, no Rio, foi palco de uma discussão acalorada. Gerentes das áreas de exploração, reservatório e produção não chegavam a um consenso sobre um dado crucial para uma empresa de petróleo: o tamanho de suas reservas.

A briga foi provocada por um levantamento feito a pedido de Luiz Carneiro, presidente da OGX. Ele acabava de substituir Paulo Mendonça em um momento delicado para a empresa, que tinha divulgado que os primeiros poços do campo de Tubarão Azul estavam produzindo 5.000 barris/dia, abaixo dos até 20 mil anteriormente previstos.

No dia seguinte ao anúncio, as ações caíram 25%. A crise foi tão grave que levou Eike Batista, controlador e presidente do conselho de administração da companhia, a afastar Mendonça do comando da empresa.

INVESTIGAÇÃO

Ao assumir, Carneiro quis investigar a real situação da OGX e encomendou a análise a um pequeno grupo de confiança formado por engenheiros de reservatório, os responsáveis por determinar de forma mais precisa as reservas economicamente viáveis de uma petroleira.

Conforme documentos obtidos pela Folha, os técnicos estimaram que seria possível extrair apenas 315 milhões de barris na bacia de Campos (veja quadro nesta página). Em um cenário otimista, em que todas as manobras para extração de petróleo dessem certo, seria possível recuperar 660 milhões de barris.

O levantamento já apontava alguns dos problemas que a OGX enfrentaria no ano seguinte. Mostrava, por exemplo, que o campo de Tubarão Azul só seria comercialmente viável até 2013. Neste ano, a empresa praticamente abandonou a área.

Segundo técnicos que participaram do estudo e pediram anonimato, as rochas desse campo são quebradiças, o que resulta numa produção expressiva no início, seguida de rápido declínio. O primeiro poço testado chegou a 20 mil barris/dia, provocando euforia na OGX, mas caiu de produção rapidamente.

Os resultados encontrados pela área de reservatório contrastavam brutalmente com as estimativas na gestão de Mendonça. Em maio de 2012, ao declarar a comercialidade (anúncio que marca o início da produção) de Tubarão Azul à ANP, a OGX estimou volume recuperável de 110 milhões de barris.

Para as áreas que deram origem aos campos de Tubarão Tigre e Tubarão Gato, a companhia anunciou, em maio de 2010, um volume recuperável entre 1,4 bilhão e 2,6 bilhões de barris.

A empresa só foi rever esse número em março de 2013, quando declarou comercialidade dos dois campos juntamente com Tubarão Areia à ANP --depois da crise em curso e do alerta dos técnicos. Na ocasião, a OGX estimou o volume total de óleo em 823 milhões de barris, mas não especificou quanto extrairia.

Essa foi uma das duas revisões de reservas que a companhia fez entre julho de 2012, quando os técnicos fizeram o primeiro alerta, e julho de 2013, quando desistiu dos campos, conforme pesquisa da Folha nos fatos relevantes da empresa.

A segunda alteração foi um corte na reserva de Tubarão Martelo. Mas nenhuma foi tão agressiva quanto previam os os técnicos de reservatório ou dava a dimensão do que aconteceria depois.

EMBATE INTERNO

Nas petroleiras, é comum um embate entre exploração, mais otimista, e reservatório e produção, mais pessimistas. Na maioria delas, a área de reservatório está ligada à produção. Na OGX, ficava subordinada à exploração, origem de Mendonça. Ao assumir, Carneiro trocou o gerente de reservatório e a área passou a responder a ele.

Os números estimados pelo reservatório provocaram uma troca de acusações verbais com a exploração na principal sala de reuniões da OGX. Os gerentes da exploração sustentavam que as áreas eram ricas em petróleo e defendiam técnicas diferentes de extração. Acusaram a produção de comprar plataformas antes da hora, comprometendo o caixa.

Carneiro, que estava na reunião, decidiu chamar uma consultoria externa para analisar os campos novos da OGX, sobre os quais as divergências eram maiores.

Foi criado um grupo, que contou com técnicos do reservatório, da exploração e da Schlumberger, empresa de serviços de óleo e gás. Eles concluíram o trabalho poucos meses depois.

Segundo técnicos que participaram do grupo, os campos de Tubarão Tigre, Tubarão Gato e Tubarão Areia se revelaram divididos em vários compartimentos, o que implicaria muitos poços, inviabilizando economicamente a produção.

No documento feito por eles, a que a Folha também teve acesso, o valor presente líquido do projeto (conceito que determina o quanto se pode ganhar de dinheiro) estava negativo em US$ 426 milhões, no cenário otimista.

Em suas recomendações finais, o grupo sugeria que a OGX reduzisse o investimento previsto e acompanhasse um poço de Tubarão Azul com características semelhantes às novas áreas.

O poço começou a produzir em janeiro e parou em abril. Em julho, a companhia informou à ANP que estava suspendendo o desenvolvimento dos campos de Tubarão Tigre, Gato e Martelo e que Tubarão Azul cessaria de produzir em 2014.

Para pessoas do reservatório e da produção, se seu alerta tivesse sido ouvido, a companhia teria apertado o cinto e sobrevivido. Mas há quem, mesmo diante da derrocada, insista na viabilidade do projeto. "Continuo acreditando que o petróleo está lá", diz um técnico da exploração.


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