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Entrevista Nilson Teixeira

A TRAVA E AS CHAVES

Educação traria mais crescimento que subsídios

Benefício, se houver, deveria ser linear, sugere economista

Baixo investimento em infraestrutura e subsídios contribuem para baixo crescimento

ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO ANA ESTELA DE SOUSA PINTO EDITORA DE "MERCADO"

O Brasil é o único país entre os 26 que perseguem metas de inflação em que o Banco Central não possui autonomia formal --regime no qual os diretores têm mandato fixo, durante o qual não podem perder o cargo.

A conclusão é de pesquisa do Credit Suisse. Para Nilson Teixeira, economista-chefe do banco, a falta de autonomia contribui para a inflação mais alta. Preços elevados, diz, limitam o consumo, o que reduz as compras no varejo, freando a produção e reduzindo investimentos.

Outras travas ao crescimento, segundo Teixeira, são baixo investimento em infraestrutura e os subsídios do governo ao setor privado.

Folha - Por que a confiança do empresário não se recupera?

Nilson Teixeira - Os cortes de impostos e a redução do preço de energia deveriam ter gerado mais otimismo e até uma queda da inflação.

Mas os gastos continuaram crescendo e a arrecadação caiu, reduzindo o superavit primário. Isso elevou o risco fiscal, criando uma incerteza que se sobrepôs ao benefício da isenção tributária. Outro ponto foram as intervenções do governo na economia e o processo de idas e vindas na comunicação das medidas, com vários porta-vozes.

Para os empresários as mensagens dos porta-vozes são contraditórias?

Não diria contrastantes, mas cada um tem seu tom. Não tenho dúvida de que o governo tem, por definição, boas intenções. Mas as idas e vindas, as mudanças de rota causam incerteza. Essa dificuldade de comunicação tem impacto negativo no potencial de crescimento.

Há ações do governo que podem melhorar o PIB potencial no médio prazo.

Quais?

Por exemplo, como você faz para melhorar o capital humano? Com educação.

Você olha a taxa de investimento no Brasil e ela é baixa. Mas a taxa de investimento em máquinas e equipamentos, que é a que tem impacto mais no curto prazo, é alta. Por outro lado, o Brasil é um dos países com menor taxa de investimento em infraestrutura e o impacto disso na economia é no médio prazo.

O governo tem tratado disso. O caminho trilhado pode não ser o melhor, mas aponta para uma situação que tende a tornar o investimento em infraestrutura mais forte nos próximos dez anos.

O que mais pode ser feito?

Medidas para melhorar a eficiência da economia. Por exemplo, reduzir subsídios específicos, tornar os subsídios mais lineares. A literatura mostra que isso tende a melhorar a capacidade de crescimento do país.

O uso de subsídios no fomento à economia é equivocado? Prejudica o crescimento?

Como economista, acho que a oferta desse benefício, se houver, tem de ser linear. Você olha a distribuição de renda no Brasil, é tão desfavorável. Não seria melhor utilizar esses recursos para melhorar o ensino básico, o treinamento de professores?

Acho que os subsídios para determinados setores são desfavoráveis ao crescimento de médio e longo prazo porque não necessariamente refletem a melhor escolha.

Quem define quem receberá os subsídios do BNDES? Não é o Congresso.

Mas é o BNDES que financia hoje o investimento de risco, de longo prazo.

De 2004 a 2007, as empresas iam ao mercado captar recursos. Isso mudou. Enquanto uma instituição financeira der juros subsidiados, não há como as outras competirem.

As empresas reclamam das regras para investimentos em tecnologia e inovação.

A opção do governo por favorecer o conteúdo nacional impõe custos. O produtor nacional tem um monopólio e nós aprendemos que o monopólio leva a maiores preços. E isso é desfavorável para o investimento em tecnologia.

E a inflação?

A inflação em alta causa um mal-estar, um freio do consumo, da produção e, portanto, do investimento. E isso ajuda a explicar o fato de os empresários estarem menos otimistas. Será que o país é um país de inflação de 4,5% ou de 7%? Hoje, o regime de metas não é mais capaz de segurar as expectativas em 4,5%.

Sabe quantos dos 26 países com regime de meta de inflação têm autonomia formal --aqueles que têm presidente e diretores com mandato fixos? 25. Só o Brasil não tem.

Em que a autonomia ajuda?

Ajudaria a ancorar melhor as expectativas, a transmitir uma credibilidade maior em relação ao cumprimento da meta de inflação, reduzindo a inflação corrente.


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