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Mercado de luxo busca saídas à restrição chinesa a mimos
País asiático é o grande motor do setor, mas novo governo quer frear "extravagâncias" dadas às autoridades
Nos últimos anos, os EUA entraram em crise financeira, a Europa foi abatida pelos problemas da dívida, mas o mercado de luxo vivia seu melhor momento em pelo menos uma década. O motivo? A China.
No mais improvável dos tempos, entre 2010 e o ano passado, toda uma indústria --da relativamente exclusiva Hermès ao brilho da Louis Vuitton-- foi engordada pelo amor dos chineses pelo luxo.
Só que agora o crescimento do PIB chinês já não é mais tão forte (ao menos para os padrões das últimas décadas), e o novo governo decidiu reprimir os gastos pessoais astronômicos das autoridades e também a política de dar presentes aos oficiais.
O resultado é que o mercado de luxo, uma indústria com faturamento de € 217 bilhões ao ano, encontra-se em uma situação desconfortável: será que a era de avanço de dois dígitos chegou ao fim?
A resposta tem implicações não só na estratégia das marcas para a segunda maior economia global, como também para outros mercados.
"Há alguns anos, a desaceleração chinesa mal produziria uma onda no setor", diz Luca Solca, analista do mercado de luxo. "Agora, pode produzir um maremoto."
Nos últimos três anos, a receita global do setor cresceu em média 11%, puxada pelo avanço chinês com alta de 19%, segundo estudo da Fondazione Altagamma e da Bain & Company. Para este ano, a China deve se desacelerar para 4%, derrubando o avanço mundial para apenas 2%.
Para a Louis Vuitton, o país asiático representa um quarto das vendas. No caso da Cartier, essa fatia é de 35%, e, para a Omega, é ainda maior: 45% do faturamento.
A desaceleração chinesa, afetada pelo que a fabricante de bebidas Rémy Cointreau chamou de "medidas antiextravagância" (a repressão aos mimos para as autoridades governamentais), foi tão acentuada que as Américas devem passar a Ásia como o maior motor global do setor.
E as companhias de luxo têm reações diferentes a essa perda de força chinesa.
Uma saída tem sido aumentar os preços. É o caso da Gucci, que está produzindo mais bolsas feitas de peles exóticas, como a da cobra píton. A Louis Vuitton também está buscando elevar preços de determinados produtos.
Outras, porém, vão pelo caminho oposto. Foi essa a saída adotada pela chinesa Shuijingfang, fabricante de baijiu (a bebida favorita do Partido Comunista). Metade dos seus produtos vai sair por US$ 82 a garrafa --ou menos--, preço que antes ela não tinha em produto algum.