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Os presidentes operários

No país, 67 empresas passaram a ser geridas por funcionários após falir; uma vez no poder, trabalhadores defendem o equilíbrio financeiro, inclusive por meio de demissões

DE BRASÍLIA

De empregado a patrão de si mesmo. Essa é a realidade de funcionários de 67 empresas no Brasil. São companhias que faliram e foram recuperadas por trabalhadores, para evitar o desemprego.

Hoje, são geridas pelos ex-funcionários coletivamente. Decisões e eleição dos diretores ocorrem em assembleias.

O levantamento, publicado em 2013 por pesquisadores de dez universidades, buscou todos os casos do país.

Os 67 confirmados têm 11,7 mil trabalhadores. Mais da metade está no Sudeste e boa parte são metalúrgicas localizadas no ABC paulista. A maioria passou à mão dos trabalhadores no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000.

"Antes o funcionário era preparado só para obedecer, hoje tem que planejar e executar", diz o presidente da Coopertrim, Efigênio Avelino.

A cooperativa, de Raul Soares (MG), nasceu da falência da Tarza, produtora de ferramentas para construção civil e agricultura, que chegou a ter 380 empregados em 2006. A partir desse ano, a companhia começou a demitir e fechou em 2008, quando Avelino já tinha 21 anos de casa.

Já em 2009 os trabalhadores começaram a se organizar, mas só com a falência da Tarza, no fim de 2011, puderam assumir seu comando.

A fábrica foi recuperada com R$ 150 mil doados pela CUT (Central Única dos Trabalhadores). Por autorização judicial, a Coopertrim aluga a empresa, repassando parte do faturamento à massa falida.

Segundo Avelino, a receita atingiu agora R$ 120 mil. Em 2008, era de R$ 2,5 milhões.

Hoje, a cooperativa tem 40 funcionários --"com direitos e deveres iguais"-- produzindo 35 mil ferramentas por mês, um décimo da capacidade. Cada um tira cerca de R$ 1.000 por mês. "Tem mais gente agora querendo voltar. Mas temos que ter crescimento sustentável. Não podemos repetir os erros do passado."

CONSULTORIA

A Coopertrim contou com a consultoria da Uniforja, outra empresa tocada por ex-funcionários. Ela nasceu em 1997, com a iminente falência da Conforja, de Diadema (SP).

Primeiro, os trabalhadores arrendaram a metalúrgica. Em 2003, compraram-na num leilão, com financiamento de R$ 20 milhões do BNDES. Hoje a cooperativa fornece para grandes, como a Petrobras, e fatura R$ 160 milhões ao ano.

Dos 470 trabalhadores, 200 são contratados e 270 são cooperados. Mas, antes da crise, em 2008, a Uniforja chegou a ter 650 trabalhadores. Mesmo gerida por eles, não deixou de demitir. "Temos que manter a empresa equilibrada", diz o presidente João Trofino.

Situação menos estável é a da Flaskô, do ramo plástico. A empresa, que chegou a ter 600 trabalhadores nos anos 1990, agora tem 70. A jornada caiu para 30 horas semanais em 2008, sem reduzir salários, que vão até R$ 3.000.

A remuneração é abaixo do mercado, mas a autonomia compensa, diz Fernando Martins, que trabalha na empresa. "São seis horas por dia, não tem patrão enchendo o saco."

A empresa opera por autorização judicial, mas seu futuro é incerto. O sonho dos trabalhadores, que assumiram a Flaskô no primeiro ano do governo Lula, é que a empresa seja estatizada pela União, maior credora.

O governo do PT não abraçou a proposta, e um projeto de lei nesse sentindo, do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), dorme no Congresso.


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