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Análise política Argentina

Silêncios de Cristina ajudam a entender o país

Em seu retorno à vida pública após 6 semanas, presidente não fala sobre problemas econômicos e sociais argentinos

FEDERICO FINCHELSTEIN ESPECIAL PARA A FOLHA

O governo argentino anunciou a flexibilização das restrições cambiais que até agora impediam os argentinos de adquirir dólares à taxa oficial de câmbio para investimento no mercado oficial.

Apesar de ainda persistirem dúvidas sobre os efeitos reais dessa medida, ela parece indicar que a volta de Cristina Kirchner à vida pública, após seis semanas de silêncio, teve efeitos concretos.

E ainda assim, não está claro que isso seja parte de uma política econômica pensada para o longo prazo.

A retirada dos controles cambiais parece constituir uma nova reação intempestiva do governo populista argentino a uma realidade que se nega a reconhecer os postulados de fé presidenciais.

Não é um dado pouco importante que uma medida de tamanha relevância não tenha sido anunciada nem comentada por Cristina Kirchner no discurso de retorno.

Analisar esse discurso é importante não só pelo que nele se diz como também pelo que nele se cala: são sintomas de uma forma populista de compreender a política e de governar o país.

Com seu carisma intacto, discursando em cadeia nacional, a presidente anunciou subsídios para os jovens.

Depois de semanas de calor escaldante, quedas sistemáticas de energia e preocupantes oscilações sociais e econômicas, ela preferiu não mencionar esses temas.

A mídia argentina questiona por que os temas mais agudos não foram mencionados pela líder do país.

A resposta, em resumo, é que o populismo prefere ignorar a realidade econômica, social e política quando esta desmente os postulados de fé do líder e de seus seguidores.

Da manipulação de índices econômicos à criação automática de um dólar paralelo ao oficial, o populismo vive uma realidade que a maioria de seus cidadãos encontra dificuldades para habitar.

Quanto a essa e outras questões, uma vez mais a presidente ratificou que sua liderança é um exemplo presente da definição histórica de populismo.

O populismo é uma forma autoritária de governo democrático, que desconfia das instituições e das divisões de poderes, e que se incomoda com o pluralismo.

Para o populismo, só existe uma verdade, a que emana das palavras do líder.

Essa verdade mutável de acordo com as mudanças no pensamento do líder representa a teologia política do movimento. Nesse sentido, o retorno à cena da presidente argentina teve a motivação de servir como espetáculo no qual a verdade volta a ser revelada aos argentinos.

Cristina Kirchner não explicou o seu silêncio. Expondo claramente a lógica que adota, limitou-se a dizer que o fato de que diversos veículos de imprensa haviam se referido à sua "reaparição" significava que queriam vê-la desaparecer simbolicamente, ou a identificavam com os desaparecidos --associando-os à ditadura militar.

Essa mistura de ficções pessoais e de demonização dos críticos como um conjunto homogêneo de fãs da ditadura militar não só banaliza "o mal" do passado como o reinventa para servir a novos mitos criados no presente.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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