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Análise G20

Emergentes vão para a reunião do G20 sem o mesmo prestígio

MARCOS CARAMURU DE PAIVA COLUNISTA DA FOLHA

É difícil avaliar as reuniões ministeriais do G20 [grupo que reúne grandes economias mundiais]. Não há agenda conhecida ou entrevistas preparatórias. Não se divulgam discursos ou posições individuais. O G20 funciona com uma certa informalidade, o que é bom.

Há sempre a expectativa de que os seus encontros contribuam para garantir estabilidade ao cenário econômico. Às vezes isso ocorre, frequentemente, não.

Na maioria das ocasiões, o G20 dá a impressão de estar atrás da curva, tentando refletir sobre cenários em que já se perdeu a mão.

Na reunião de ministros da Economia e presidentes de BCs que ocorre neste fim de semana na Austrália, há um fato a notar: os países emergentes baixam de tom.

Há alguns anos, os emergentes apontavam os equívocos feitos pelos países amadurecidos em deixar solta a farra dos derivativos, descuidar de aspectos macroeconômicos e de compromissos assumidos por eles mesmos --por exemplo, os compromissos de disciplina fiscal no contexto europeu.

O G20 expressava reconhecimento aos emergentes e os convidava a participar das soluções dos problemas, como aportar recursos para o financiamento de europeus.

O quadro que temos hoje, o próprio G20 estimulou.

Na crise de 2008, o consenso foi usar extensamente os mecanismos anticíclicos e produzir crescimento.

Ao que se sabe, apenas a Alemanha tinha dificuldades maiores com essa orientação.

O acordo foi cumprido, mas com desvios.

O Brasil, por exemplo, embrenhou-se na ampliação do financiamento público ao setor privado, isenções tributárias, menor rigidez na disciplina fiscal, políticas cujos resultados demandam, no contexto presente, um súbito esforço de contenção de gastos para tranquilizar os investidores.

A China engajou-se num programa de maus projetos que aumentou o endividamento dos governos locais.

A China, há que reconhecer, tem gás para crescer e meios suficientes para capitalizar bancos que possam ter sido afetados pelo impacto de financiamentos equivocados. Mas aumentou o grau de insegurança sobre ela.

APERTAR OS CINTOS

Outros países de renda média conduziram políticas que os levaram ao deficit duplo, fiscal e de conta-corrente, e à desconfiança que hoje prevalece sobre a sua capacidade de fechar as contas em tempos de recursos escassos no quadro internacional.

A economia sempre funcionou assim. É impossível evitar a tentação de quem está em posição confortável de praticar excessos, adiar acertos e reformas essenciais.

Se as coisas fossem diferentes, as crises seriam raras. Não são. Sucedem-se agora com mais frequência do que no passado.

A realidade atual mostra aos emergentes que a autoconfiança elevada nunca é boa indutora e que as posições relativas na vida econômica internacional não mudam estruturalmente em alguns poucos anos, como os governos gostam de pensar.

Agora não há muito a fazer, senão apertar os cintos, deixar o ciclo mudar e acreditar que a lição possa ter sido aprendida.


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