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As lobas de Wall Street

Executivas poderosas do centro financeiro de Nova York acham que ainda é preciso abrir mais espaço às mulheres

ISABEL FLECK DE NOVA YORK

Quando encerra sua jornada de 13 horas de trabalho, Jolyne Caruso, que já passou mais de 30 dos seus 53 anos em Wall Street, o centro financeiro de Nova York, segue sempre o mesmo ritual: senta-se à mesa com os filhos adolescentes e o marido, pergunta como passaram o dia e fala sobre o seu cotidiano.

"Nos fins de semana, tento acompanhá-los em seus jogos e atividades", afirma Caruso, que, há quatro anos, abriu sua própria empresa de investimentos, a The Alberleen Group, da qual é CEO.

Apesar de não trabalhar mais 15 horas por dia, como na época em que era diretora de Ações do JPMorgan para as Américas, ela ainda tem pouco tempo com a família.

O desafio de conciliar profissão e vida pessoal está longe de ser uma exclusividade feminina, ou das financistas.

Mas o alto nível de exigência e a concorrência acirrada na cena predominantemente masculina faz de Wall Street um ambiente ainda pouco aberto à ascensão feminina.

A percepção geral é que a crise iniciada em 2008 fez com que as mulheres até perdessem parte do pouco espaço que haviam conquistado.

A recente saída de nomes como Ina Drew do posto de diretora de investimentos do JPMorgan e de Sallie Krawcheck, ex-diretora financeira do Citigroup e ex-presidente de uma importante divisão de investimentos do Bank of America, foi vista como sintoma do retrocesso feminino.

Numa pesquisa conduzida pelo Fórum de Mulheres de Wall Street em 2013 com cerca de 500 funcionárias de diversos setores, como bancos de investimentos, trading e gerenciamento de riscos, quase a metade (47%) disse acreditar que, com a crise, foram reduzidas as oportunidades para as mulheres.

Menos de um terço (31%) disse ver mais espaço.

Apenas um dos 20 maiores bancos americanos tem hoje uma CEO: o Keybank, comandado por Beth Mooney.

Em entrevista em fevereiro, Krawcheck confirmou a tendência de as empresas preferirem homens na crise. "O que eu vi quando estava em Wall Street era o pensamento: A diversidade, na teoria, contribui para os resultados, mas estamos num momento de crise e eu preciso de alguém em quem eu confie hoje' ", disse à Bloomberg.

Para Jane Newton, fundadora do fórum de mulheres, que trabalhou por 17 anos para o JPMorgan, o que pesa nessa hora não é a característica da mulher como profissional, mas a própria falta de espaço que ela sempre teve nesse mercado. "Há mais homens que já foram testados em tempos de dificuldade e que puderam mostrar suas habilidades. Isso conta."

RELEVÂNCIA

Independentemente da crise, o principal desafio para as mulheres em Wall Street sempre foi encontrar uma maneira de seguir sendo "relevante" para esse mercado, diz Newton. "É um lugar onde as expectativas e as metas são muito altas e onde você se torna velho muito rápido. A principal questão para elas é: Como posso seguir no jogo?'"

Grande parte das entrevistadas pela Folha acredita ser necessário estabelecer cotas para mulheres em cargos de chefia, apesar de não ser o ideal --para algumas, é, inclusive, "trágico".

"Sempre me opus à ideia de cotas, mas, em certas situações, elas podem ser eficientes. No entanto, é preciso que elas venham acompanhadas de uma conscientização sobre a importância da diversidade para a empresa", diz Kathy Matsui, codiretora de pesquisas de investimento na Ásia do Goldman Sachs.

Mais do que cotas, no entanto, Caruso defende uma política mais compreensiva das empresas. "O maior obstáculo da mulher o seu próprio ciclo de vida: será justamente no momento em que a sua carreira está avançando, aos 30 anos, que ela estará começando uma família."

Para ela, as empresas poderiam permitir a suas funcionárias a conciliar o trabalho com a família ao menos nos primeiros anos da maternidade. "As mulheres não precisam mais do que dois ou três anos, até a pré-escola. Em troca, elas dariam uma contribuição valiosa."

Hoje, com os filhos já com 16 e 18 anos, ela disse só ter conseguido conciliar carreira e família após a decisão do marido de deixar o trabalho como advogado.

Mas há muitas que não arriscam. Em pesquisa feita pelo mesmo fórum de mulheres, em 2012, 34% disseram ter optado por não ter filhos. Entre as que escolheram ser mãe, 53% delas são, como Caruso, as principais responsáveis pela renda da família.

Há 15 anos, Patricia Chadwick, 65, que trabalhava em empresas de gerenciamento de capital em Wall Street, decidiu que ficaria mais tempo com os filhos gêmeos, então com cinco anos. "Eu tinha 51 e estava muito bem na minha carreira, mas decidi parar."

Caruso, por sua vez, diz não se arrepender da escolha de seguir em Wall Street. "Hoje minha filha sente muito orgulho da minha trajetória. É muito bom ser um exemplo."


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