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Entrevista Mauro Leos

Corte da nota do país será avaliado só após eleições

Analista da agência Moody's afirma que pleito limita ajustes pelo governo e que avaliação está levando isso em conta

MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO

O governo brasileiro começou o ano sob o risco de ser rebaixado pelas agências de classificação de risco, mas a redução, se vier, só deverá ocorrer após as eleições presidenciais, cujo primeiro turno está marcado para outubro.

Este é pelo menos o cenário da americana Moody's, uma das gigantes do setor.

Para Mauro Leos, vice-presidente e analista sênior da agência, é preciso esperar as eleições antes de qualquer reavaliação.

"A principal notícia [deste ano] são as eleições e isso implica uma limitação na disposição do governo em ajustar sua contabilidade. Nós entendemos e por isso esperamos", afirmou.

Uma mudança antes disso, diz ele, somente se os dados de crescimento brasileiro e contas públicas vierem muito abaixo do esperado. A Moody's espera que o PIB cresça 2% neste ano.

Embora as agências tenham cometido erros de avaliação durante a crise de 2008, perder uma nota no ranking de países "bons pagadores" poderia afugentar investidores estrangeiros e provocar uma saída acelerada de dólares do país em um momento de fragilidade.

Folha - Qual sua avaliação sobre a meta fiscal do Brasil neste ano [superavit de 1,9% do PIB]? É um objetivo crível?

Mauro Leos - O anúncio foi interessante, mas estamos prestando muito atenção. Os mercados estão tentando entender o que o governo tem a dizer.

O mais interessante para nós é que o governo está mais realista em termos de números e metas. Eles têm um crescimento menor do PIB, menor crescimento das receitas e um superavit menor [em termos de recursos]. Mas veio em linha com o que esperavam analistas e indica que o governo está se movendo no sentido de se aproximar dos mercados.

A meta é praticamente a mesma do ano passado, 1,9% do PIB. Mas não deve resultar no mesmo montante [de economia], pois nossa expectativa é que o crescimento econômico permaneça fraco, ao redor de 2% neste ano.

Ainda não está claro, mas talvez esse superavit primário não seja suficiente para que a dívida, como percentual do PIB, fique estável e ela pode subir um pouco.

Há uma semana, o governo divulgou dados sobre as contas públicas em janeiro. As despesas do governo federal aumentaram 20% em um mês. É um sinal preocupante?

É difícil tirar uma conclusão em relação ao ano baseando-se apenas no resultado de um mês. Mas o sentimento é de atenção. Qualquer sinal que não seja positivo pode fazer com que o mercado rebaixe suas expectativas, com consequências negativas. Todos estão esperando por indicadores de maior austeridade.

Até porque, mesmo que 1,9% seja o esforço mínimo, alcançá-lo não será tarefa fácil. Vai exigir um esforço do governo. Não é um grande superavit primário. O Brasil já foi capaz de entregar superavit mais robustos, de até 3% do PIB. Mas, nas circunstâncias atuais, de menor crescimento econômico, chegar a 1,9% não será automático.

Após esses acontecimentos mais recentes, planejam colocar a nota do Brasil em revisão ou mesmo rever a perspectiva do país neste ano?

Nossas expectativas em relação a 2014 não são muito diferentes do que ocorreu em 2013, em termos de crescimento econômico, contas públicas e mudanças significativas de política. Nós temos uma projeção bastante conservadora. Não esperamos grandes mudanças. Nos parece que a intenção do governo é garantir a chegada ao final do ano, a dezembro.

Ficaremos atentos aos dados de atividade e fiscais, como receitas e despesas. Mas não reagiremos aos dados de janeiro. Um mês não é suficiente para tomar decisões sobre um ano inteiro, pelo menos não para nós.

Mas se o governo não conseguir alcançar a meta de 1,9% do PIB ao fim do ano, o que se pode esperar da Moody's?

Mais importante do que 2014 são as indicações do que pode acontecer no futuro. Deixe-me explicar. Nós não esperamos grandes novidades em termos de crescimento e principais variáveis neste ano. A principal notícia são as eleições e isso implica uma limitação na disposição do governo em ajustar sua contabilidade. Nós entendemos e por isso esperamos. Então, apenas se houver uma clara deterioração fiscal e do crescimento econômico poderemos contemplar mudanças em nossa visão.

Há uma forte conexão entre as fontes fiscais e o crescimento. Se a economia permanece fraca, é mais difícil para o governo, pois as receitas públicas tendem a enfraquecer também. Se o crescimento for de 2%, ou levemente menor, isso poderá ser manejado. Mas seria uma surpresa para nós se as coisas fugissem ao controle. A meta é de 1,9%, se o superavit primário ficar em 1%, isso seria uma surpresa. Em todo o caso, nós olharíamos os dados em detalhe para saber se uma mudança seria necessária. Mas o número teria que ser muito menor do que a meta. Só nessas condições poderíamos pensar em reavaliação.

O que seria pior para o Brasil neste momento, não chegar à meta de superávit primário ou ter um crescimento ainda menor em 2014 e 2015?

As duas coisas estão intimamente conectadas, não sei se é possível separá-las. Se os dados fiscais não são bons, isso é resultado de uma atividade fraca. Por isso, se me pergunta o que é mais importante, eu diria que é o crescimento. Porque, com um avanço mais fraco do que este, será ainda mais difícil para o governo alcançar seu objetivo. E até agora as expectativas são negativas, porque as projeções de analistas do mercado são ainda mais baixas, perto de 1,5%. Então o crescimento é a variável-chave que estamos observando neste ano e em 2015.


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