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Engenheiro sobre rodas

Criador da primeira montadora não estatal da China, bilionário quer modernizar a sueca Volvo, que comprou em 2010

RICHARD MILNE DO "FINANCIAL TIMES", EM BRUXELAS

Li Shufu, o bilionário chinês visto como uma versão chinesa de Henry Ford, executou uma das mais audaciosas incursões internacionais da China ao adquirir a Volvo Cars da Ford, em 2010.

Mas o presidente do conselho da Zhejiang Geely começou no negócio em circunstâncias muito mais humildes, como fotógrafo. Logo demonstrou seu espírito empreendedor, criando um estúdio com 100 yuans (US$ 16) que ganhou do pai.

Montou ele mesmo uma câmera "bastante profissional" e construiu o equipamento de iluminação e a mobília que usava em seu estúdio.

Da fotografia, ele passou a extrair ouro e prata de maquinaria abandonada. Com a crescente concorrência, aos 23 anos avançou para o design e a produção de peças para geladeiras. Em breve, fabricava refrigeradores.

Criou uma companhia chamada Geely, um nome que se assemelha à palavra inglesa para "sortudo". A chegada de novos concorrentes o expulsou uma vez mais. Os chineses "aprendem rápido, são rápidos em seguir o sucesso".

Em 1989, Li achou que estava na hora de "fazer uma pausa". Entregou seus negócios ao governo local e se matriculou na universidade. Diversos anos de estudo pouco fizeram para mudar sua "sina": pioneirismo seguido por uma onda de cópias foi o que aconteceu no ramo da construção, no qual se aventurou.

Em 1993, ele criou a primeira montadora chinesa de motocicletas, logo copiada.

O salto final de Li foi para o setor automobilístico. O engenheiro explica a razão por trás da escolha definitiva: "Creio que seja altamente abrangente e complicado. Não é fácil simplesmente ingressar nele e arruiná-lo".

A mistura de engenharia com um forte impulso empreendedor levou Li, 50, a se tornar um dos figurões do setor privado chinês. A Geely se tornou a primeira montadora não estatal da China em 1997 e no ano passado faturou US$ 4,7 bilhões (cerca de R$ 10,5 bilhões). Resta determinar se sua ousada tomada de controle da montadora sueca se provará um sucesso.

Mas Li, que também controla a Manganese Bronze, fabricante dos famosos táxis pretos londrinos, desde o começo preferiu olhar para o longo prazo.

CARROS DESMONTADOS

Seus primeiros carros estiveram longe de ser bem-sucedidos. A despeito de ter iniciado a produção em 8 de agosto --o dia mais sortudo do ano na China-- de 1998, os carros que fabricava eram tão "rudimentares" que Li se recusou a vendê-los. "Nós os desmontamos, aceitando que não eram bons o bastante."

Um segundo lote também acabou sendo desmontado, e um terceiro foi considerado "muito insatisfatório".

O ponto de inflexão chegou com a candidatura da China a uma vaga na OMC (Organização Mundial do Comércio) e a promessa de abrir suas indústrias. Li não precisava mais sublicenciar projetos e fabricar modelos de outras companhias e podia projetar por conta própria.

O Free Cruiser, baseado em projeto da montadora sul-coreana Daewoo, começou a ser produzido em 2002 e se tornou um dos primeiros automóveis chineses a serem exibidos em salão internacional.

Li diz que sonhava com a Volvo em 2002 --mesmo que ainda não contasse com um modelo de sucesso em sua montadora. "Senti que o fato de que a Ford controlava tantas marcas em algum momento nos daria a oportunidade de adquirir uma delas, e a Volvo era minha favorita."

Demorou oito anos para que esse sonho se realizasse, e mesmo agora muita gente no setor acredita que ele abocanhou uma porção grande demais para digerir.

Hakan Samuelsson, o presidente-executivo da Volvo, diz que a sueca prosperou sob o controle da Geely graças à estabilidade e aos investimentos da companhia chinesa. "Li é muito profissional. Não tem a ambição de microgerenciar a companhia."

De sua parte, Li diz que a pressão, agora, é por aumentar a competitividade da combinação entre Geely e Volvo.

Persistem rumores de tensão entre as duas culturas corporativas, especialmente sobre como adaptar a imagem conservadora da Volvo ao gosto dos consumidores chineses por produtos mais vistosos.

Li mesmo menciona a questão, dizendo que "falta modernização ao design escandinavo". Mas ele rapidamente acrescenta que o primeiro novo modelo projetado com dinheiro da Geely --uma nova versão do utilitário esportivo XC90 que sai neste ano-- oferecerá "o toque requerido".


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