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País poupa 58% menos que emergentes

Com baixa poupança, Brasil investe pouco, o que ajuda a explicar cenário de inflação alta e aumento de juros

Taxa sobre PIB caiu de 19,4% para 13,9% de 1990 a 2013, enquanto a média dos emergentes subiu de 23% para 33%

ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO

A poupança dos países emergentes e em desenvolvimento saltou dez pontos percentuais entre 1990 e 2013, para 33% do PIB (Produto Interno Bruto).

A tendência contrasta com o encolhimento da economia feita por famílias, governo e empresas no Brasil, onde a taxa de poupança encolheu de 19,4% para 13,9% do PIB no mesmo período.

Ou seja, o Brasil poupou, no ano passado, menos da metade que a média de seus pares, a maior distância registrada desde pelo menos 1980, segundo dados do Fundo Monetário Internacional.

Como consequência da baixa poupança doméstica brasileira, o país também investe pouco.

Entre 22 emergentes importantes, o Brasil é o terceiro com a menor taxa de investimento, 18,4% do PIB em 2013.

Esse contexto ajuda a explicar o cenário atual de inflação elevada, em que o aumento da oferta de bens e serviços não tem acompanhado a expansão da demanda. E faz com que o Brasil caminhe na contramão do mundo em termos de política monetária.

Entre 20 países monitorados pelo Itaú Unibanco que anunciaram decisão de política monetária, em março e no início deste mês, o Brasil foi o único a elevar os juros.

Segundo a economista Monica de Bolle, sócia da Galanto Consultoria, o aumento da poupança doméstica nos países emergentes foi uma resposta às crises ocorridas no fim da década de 1990:

"Os países emergentes, especialmente os asiáticos, adotaram uma política de enorme esforço para aumentar seu colchão de proteção". A taxa de poupança dos países asiáticos foi a que mais subiu nas últimas décadas. Isso alimentou a compra de títulos da dívida de países desenvolvidos, o que, segundo o FMI, tem sido um dos principais fatores da baixa taxa de juros real (descontada a inflação) global.

CAMINHOS DISTINTOS

Na América Latina, países como Peru, Equador e Colômbia aproveitaram a demanda externa favorável na década passada para aumentar sua poupança doméstica. Já o Brasil optou pelo caminho do maior consumo.

"Acho que essa foi uma decisão da sociedade, o que é até compreensível em razão das duas décadas de severa restrição de consumo que o país sofreu por causa da inflação elevada", diz de Bolle.

Para o economista e professor da PUC-RJ Tiago Berriel, a expansão do crédito e a melhoria na Previdência Social podem ter contribuído para a preferência pelo consumo no Brasil. "Esses são fatores que tendem a puxar a poupança para baixo."

O governo também ajudou a acelerar o consumo no Brasil. Nos últimos anos, isso ocorreu por meio de incentivos para a aquisição de bens como automóveis e pelo aumento dos gastos públicos.

Segundo Constantin Jancso, economista do HSBC, o consumo elevado e a queda no lucro de grandes empresas, como a Petrobras, explicam a redução da poupança doméstica do país.

"Parte da poupança vem do lucro das empresas, que tem caído", afirma.

INFLAÇÃO

Com a poupança baixa e em queda, faltaram recursos para financiar os investimentos que deveriam ter sido feitos a fim de aumentar a oferta de bens e serviços. O resultado tem sido a taxa de inflação persistentemente alta.

Segundo Caio Megale, economista do Itaú Unibanco, o Brasil já estava com um nível mais alto de inflação quando o chamado relaxamento monetário nos países ricos levou a um excesso de recursos na economia global.

O efeito dessas políticas foi a depreciação de moedas dos emergentes, o que pressionou as taxas de inflação.

"Países que estavam com inflação acomodada, como Colômbia, Chile e México, puderam se preocupar mais com a atividade econômica, que enfraqueceu nos últimos anos, e afrouxar a política monetária."

No Brasil, o Banco Central resistiu, mas começou a subir os juros há um ano.

Economistas acreditam que, apesar do aperto monetário recente, a inflação deva permanecer elevada. "Não vejo sinais de inflação menor em um horizonte longo", afirma Berriel, da PUC-RJ.


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