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Vinicius Torres Freire

O povo está irritado

País vive entre mal-estar e picos de fúria com preços, cidades podres, polícia; candidatos estão mudos

DAQUI A MENOS de dois meses começa a Copa. Os candidatos a presidente fazem as festinhas de lançamento oficial de seus nomes. Os Protestos de Junho fazem um ano. Um ano de mal-estar extra com a incivilidade brasileira.

Um ano em que, de vez em quando, espirra óleo quente da panela: uma revolta no Pavão-Pavãozinho, mais ônibus queimados na periferia de São Paulo, para mencionar as queimaduras mais recentes.

Nos dias da Copa e do aniversário do "Junho de 2013" pode haver novo pico de mau humor. Os milhares de candidatos a alguma coisa terão o que conversar com o público?

Um ano depois das propostas de pactos e de constituintes e até do esquentamento de ânimos revolucionários marginais, a conversa não melhorou de nível. A impaciência do eleitorado borbulha em fogo baixo.

O cansaço não é crítico, mas crônico. O Datafolha registra um nível de insegurança econômica inédito desde os piores dias de FHC, embora a situação econômica e social seja muito melhor agora. Vários números da pesquisa mostram que existe um desejo vago, porém inequívoco, de mudança, um "não-sei-quê" de anseio por outra história, a qual não parece ser contada por nenhum candidato ou partido.

É um despropósito dizer que há tumulto no país, mas muita gente está disposta a mostrar na rua, com tumulto se for preciso, que a paciência acabou. Os moradores de bairros pobres do Rio, vítimas de bandidos ou da banda podre das polícias, "descem o morro" mês sim, mês não, a fim de dizer que não toleram mais tortura e assassinato seguidos de fraude policial e de outros esbulhos de direitos civis. No fundo, claro, cansaram de viver calados em zona de guerra civil molecular.

Em São Paulo, o incêndio de ônibus se tornou endêmico. Mais foram queimados até agora em 2014 do que em todo ano passado. Em muitos desses tumultos, pobres revoltam-se com violências várias (da repressão ao funk ao crime) e, por vezes, tornam-se instrumento de bandidos organizados. Nada disso é por acaso.

A princípio, é improvável que o clima melhore até junho. Houve greves de policiais, como a da Bahia, e há outras planejadas. Há protestos previstos contra a Copa; noutro plano, sindicatos querem aproveitar a oportunidade a fim de obter acordos melhores, ameaçando greves.

Para temperar a situação, há vexames em penca dos desclassificados da política.

Surgem os primeiros indícios, muito preliminares, de problemas no emprego. O número de pessoas ocupadas parou de crescer nas grandes metrópoles. As fábricas de carros ameaçam demitir.

A inflação, o "ruído de fundo" que irradia da política econômica ruim, subiu ainda mais por acidente climático, pinçando o nervo mais sensível, o preço da comida.

"Imagina" se houver racionamento na maior metrópole do país, São Paulo, 20 milhões de pessoas já esquentadas submetidas ainda por cima à falta d'água.

Tudo parece "fait divers", notícias variadas do cotidiano, ainda que horríveis. Só que não. São sintomas de inépcias e negligências "estruturantes", como dizem tecnocratas.

Dos candidatos, quase silêncio, fora os oportunismos de costume. Ninguém conversa com o cidadão. Cada um a seu modo, FHC e Lula souberam conversar.

vinit@uol.com.br


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