Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Entrevista Stephen Jen
Brasil precisa entender que sem dor não há ganho
Especialista em mercados emergentes diz que país precisa reformar economia e investir em infraestrutura e educação
Os chineses se deram conta de que, sem dor, não há ganho e que, portanto, é preciso reformar sua economia. Segundo o economista Stephen Jen, no Brasil, ainda falta essa percepção.
Para ele, que é sócio da empresa de investimentos SLJ Macro Partners, essa mudança de mentalidade é vital:
"Você tem de sentir a dor e reformar ao mesmo tempo. Não dá para passar por uma desaceleração econômica sem mudar o comportamento das pessoas e do governo".
Folha - Apesar da fraqueza da economia, o Brasil continua atraindo muito capital de fora. A que se deve isso?
Stephen Jen - As taxas de juros tanto nos EUA como na Europa estão extremamente baixas. Isso vai mudar conforme continuar aumentando a confiança na recuperação dessas economias. Com isso, as moedas de mercados emergentes voltarão a ficar sob pressão. Mas esse tipo de tumulto nos mercados emergentes é muito diferente das crises típicas que ocorreram no passado. Não são, portanto, crises. São ajustes.
O sr. ainda acha que a situação dos mercados emergentes é comparável à dos países periféricos europeus?
Sim. Volumosas entradas de recursos levaram a um longo ciclo de expansão do crédito. Isso provocou alocações ineficientes de recursos e grandes deficit em conta-corrente.
Como esses problemas podem ser resolvidos no Brasil?
Não há saída fácil. A economia tem um potencial enorme, as pessoas têm um potencial enorme, mas o país não consegue atingir esse potencial. Parte disso é fruto da política, parte disso são escolhas coletivas.
Deveria haver menos transferências e os que falham deveriam poder fraquejar em sua área de atividade econômica.
O sr. quer dizer que deveria haver mais competição?
Eu não queria dizer isso. É um assunto sensível para algumas pessoas. É uma escolha coletiva se o país quer estar do lado esquerdo do espectro político-econômico ou do lado direito do centro. Não sou eu que devo opinar.
Mas é óbvio que é necessário aumentar os investimentos em infraestrutura física no país. É um país grande, muito populoso. É preciso que o custo das transações seja barato e eficiente.
A outra questão óbvia é a necessidade de investir em educação. Há outros países numa situação parecida com a do Brasil, de não estar perto de atingir seu potencial. A China, entre todos os países, é o que embarcou em reformas mais significativas.
Para onde caminha o modelo econômico chinês?
Eles tomaram uma decisão explícita de deixar as forças do mercado atuar mais. Antes, era a mão visível fazendo o trabalho e isso levou a más alocações de recursos.
Acho que a nova administração demonstra que quer confiar mais no mercado.
A China será bem-sucedida?
Os problemas são, sim, intimidadores. É um cenário em que sem dor não haverá ganho, mas o mais importante é que a China entende isso. Há consenso sobre a necessidade de reformas.
O Brasil se encontra preso numa armadilha de baixo crescimento?
Há muitas reformas a serem feitas. É vital que o BC controle a inflação, que o governo controle seus gastos da forma mais prudente possível. O mundo está mais competitivo e globalizado. Um país não pode crescer sozinho. Tem de estar exposto à economia global de uma forma que vá além das exportações de commodities.
O Brasil precisa de medidas que levem a mais inovações, criar espaço para que o talento aflore.
Isso requer mais investimento em educação, infraestrutura, direitos democráticos e uma liderança forte.