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Sob Dilma, PIB se eleva pouco e sem saltos
Padrão de crescimento da atual gestão é mais previsível, sem surtos de melhora nem retrações agudas do passado
No segundo mandato de Lula, taxa média anual de crescimento foi de 4,5%; Dilma deve ficar abaixo de 2%, na média
Eleita com a ajuda da maior taxa de crescimento desde o Plano Real, Dilma Rousseff preside um dos quadriênios de expansão mais fraca da história republicana.
Na disputa presidencial de 2010, o PIB (Produto Interno Bruto) do país crescia 7,5%, com média anual de 4,5% no segundo mandato de Lula. A sucessora e candidata à reeleição terá sorte se conseguir uma média de 2%.
Desde o final dos anos 40 do século passado, quando começaram as medições mais regulares do PIB, nenhum presidente encerrou o mandato com uma taxa tão baixa.
No período, apenas Fernando Collor (1990-1992), que sofreu um processo de impeachment, tem uma média pior. O tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) tem números apenas ligeiramente superiores.
As comparações, é claro, devem ser feitas com cautela: desde a crise da dívida externa, nos anos 80 do século passado, e a redemocratização, o país passou a conviver com taxas mais modestas de enriquecimento.
MILAGRE ECONÔMICO
Até então, vivia-se um processo de industrialização --e aumento populacional-- que proporcionava altas do PIB hoje inimagináveis.
Garrastazu Médici (1969-1974), na etapa mais repressora da ditadura militar, comemorou o tricampeonato na Copa do Mundo, o milagre econômico e uma média anual de 11,9%.
Juscelino Kubitschek (1956-1961), cujo governo expandiu a indústria automobilística e construiu Brasília, obteve uma taxa de 8,1% e se tornou referência do desenvolvimentismo nacional.
"VOO DE GALINHA"
Tudo considerado, o desempenho acumulado no governo Dilma derrubou uma tese que chegou a obter boa aceitação até fora dos círculos petistas: a de que o país finalmente teria redescoberto o caminho do crescimento sem sobressaltos.
Afinal, o segundo governo Lula havia rompido o padrão "voo de galinha" dos anos anteriores --em que surtos de expansão eram rapidamente interrompidos por altas da inflação, rombos nas contas do governo ou disparadas da cotação do dólar.
Em retrospectiva, fica mais claro que os resultados do petista se amparavam no bom momento então vivido pela economia global, em particular à disparada dos preços de produtos agrícolas e minerais de exportação.
Sob Dilma, não houve --e, tudo indica, não haverá até dezembro-- surtos de melhora nem retrações agudas.
As taxas anuais não se afastam muito da média, e mesmo entre trimestres não se veem as oscilações bruscas comuns no passado. Não há sobressaltos, mas tampouco há crescimento.
Esse padrão, mais previsível, pode atenuar o desgaste político da presidente. FHC, com média semelhante, governou entre crises sucessivas que elevaram o desemprego e multiplicaram a incerteza dos investidores.
Mas, ao mesmo tempo, desencoraja apostas de melhora no futuro visível, o que ajuda a explicar a queda dos investimentos das empresas nos últimos três trimestres.
O pessimismo vem da percepção, predominante no mercado, de que a política econômica deverá passar por ajustes capazes de deprimir ainda mais o PIB, para conter a inflação e a deterioração das contas do governo. Na campanha eleitoral antecipada, Dilma já atribui essas medidas aos adversários.